A “bola suíça ou fitball”, utilizada hoje no meio fitness, foi desenvolvida por um petroquímico italiano na década de 60, chamado Aquilino Cosani. Mas foi somente depois, na Suíça, que a bola foi introduzida como instrumento terapêutico na reabilitação neurológica e ortopédica para aumentar a consciência somática e promover reeducação neuromuscular, reabilitando crianças (método Bobath) e adultos. Nomes como Elbeth Kong, Mary Quinton, Joanne Posner-Mayer, Susanne Klein-Vogelbach são citados como precursores nessa iniciativa da aplicação clínica com a bola.
Da fisioterapia, a bola invadiu a prática física no final da década de 80 e foi incorporada à rotina de condicionamento físico nas academias e nos estúdios de Pilates. Embora não faça parte, portanto, dos acessórios originais de Pilates, muitos estúdios possuem bolas coloridas e de diversos tamanhos que oferecem, junto com outros acessórios (originais ou não), a incorporação de exercícios alternativos e variados.
Por suas características que envolvem diversão, desafio, dinamismo, a bola traz o lúdico para a sala de aula. O fato de ser instável estimula todo o sistema neuromotor que regula o equilíbrio e ajuda na ativação dos músculos profundos do tronco. Quanto maior o desafio, maior necessidade de controle para não cair e para dominar a bola durante o exercício. A bola exige, portanto, equilíbrio, concentração, controle e domínio do corpo, em especial, nos exercícios desafiadores. É possível explorar, força, mobilidade, flexibilidade, resistência, de forma criativa e divertida.
Exercícios durante a gravidez
Por fornecer muitas dessas características ela pode ser utilizada com mulheres grávidas, desde que haja bom senso, cautela e conhecimento sobre as repercussões da gestação no corpo. Em linhas gerais, o que oferecer risco de queda, stress articular ou excesso de pressão abdominal será vetado durante a aula.
A gestação promove alterações fisiológicas preparatórias extensas que podem influenciar o desempenho nos exercícios. Uma delas é a modificação na substância básica e no tecido conjuntivo, em função dos hormônios, fazendo com que os tecidos fiquem mais amolecidos e mais facilmente distendidos; isso resulta em frouxidão do tecido conjuntivo e instabilidade articular, deixando as articulações mais susceptíveis a lesões (entorses, luxações, distensões). Outra modificação importante diz respeito à mudança no centro de gravidade que promove ajustes compensatórios de postura, altera o posicionamento da coluna-pélvis e a marcha. Aliado a isso, as mudanças nos pés e a alteração no esquema corporal modificam a cinética do membro inferior e interferem no equilíbrio e noção espacial. Além de tudo, a distensão dos músculos abdominais em função do crescimento uterino e da mudança do ângulo de inserção dos músculos abdominais, promove uma adaptação nas faixas dos retos que se afastam e produzem um achado comum na gravidez, denominado diástase.
Exercícios com bola podem ser grandes aliados, mas toda essa transformação nos faz repensar as reais necessidades desse corpo e os riscos que corremos prescrevendo exercícios arriscados e, muitas vezes, desnecessários.
Exercícios que não são recomendados
Não são recomendados os exercícios que desafiem o equilíbrio a ponto de haver perigo de quedas, já que há frouxidão, há instabilidade nos pés, mudanças nas curvas da coluna, um novo peso e uma nova distribuição de forças na movimentação geral do corpo. A grávida, literalmente, não sabe onde está no espaço, não tem completo domínio sobre o corpo, coloca tensões anormais sobre alguns músculos e articulações em um esforço para contrabalançar sua nova distribuição de massa. E quanto menos consciência corporal e quanto menos familiaridade com a bola e os exercícios, mais risco de perder o controle. Portanto, exercícios como ficar em pé ou de joelhos em cima da bola, ou qualquer outro que possibilite queda, são contra-indicados.
Com a frouxidão ligamentar e todas as alterações na estática e na dinâmica, os movimentos muito amplos, que exigem grandes amplitudes de movimento ou alongamento extremo podem gerar estresse desnecessário nas articulações e músculos. Então, nada de movimentos difíceis de dominar, que chegam as finais de amplitude, que fazem deslizar a bola a ponto de perder o controle, que exigem muita estabilidade articular. A bola é um elemento instável e “perder o controle” pode ser desastroso.
Em virtude do crescimento uterino, a capacidade de fortalecer o “abdômen distendido” pode ficar impedida pelo desenvolvimento da diástase dos retos abdominais. Evitar uma separação maior deve ser prioridade do profissional que faz um plano de aula para grávidas. Exercícios com grandes alavancas, elevação das pernas, rolamentos tipo Roll Over e Roll Up, flexões de tronco como os “Curl Up” são desnecessários e aumentam muito a pressão abdominal e pélvica, podendo favorecer a diástase (patológica) e a incontinência urinária. Então, pensar na bola como acessório para ativar os abdominais com esse tipo de exercício é completamente inapropriado.
Os benefícios dos exercícios com a bola durante a gravidez
Os benefícios inerentes ao exercício como manter o tônus, força e resistência musculares, diminuir o risco de dor lombo-pélvica, aperfeiçoar o controle neuromuscular das articulações e dos músculos profundos do tronco e assoalho pélvico e, ainda, o efeito positivo sobre o humor e a auto-imagem, podem ser conseguidos de forma prazerosa e divertida com a bola. Um programa individualizado e monitorizado pode ajudar a promover inúmeros benefícios para as mulheres. Mas a escolha consciente e responsável do profissional é que vai garantir que essa brincadeira seja lúdica e, sobretudo, segura para as grávidas.
Por Marla Lopes para Revista +Q Pilates