O objetivo deste artigo é avaliar a eficácia do método Pilates no tratamento da dor lombar crônica, revisando estudos científicos nos quais o método Pilates foi utilizado como tratamento. Um olhar crítico pode ser feito nas limitações dos estudos e nos tipos de exercícios utilizados.
Critérios de inclusão dos estudos científicos
Uma pesquisa Booleana para ensaios clínicos randomizados e controlados usando Pilates e lombalgia no PubMed (incluindo MEDLINE) feita em 2019 resultou em 24 achados.
- 01 estudo foi excluído, porque não estava disponível como texto completo.
- 01 estudo foi apenas o protocolo de um controle randomizado sem resultados;
- 11 estudos foram excluídos porque eram revisões ou não ensaios controlados ou clínicos randomizados ou porque eles apareceram nos resultados sem realmente incorporar ambas as palavras-chave;
- 11 estudos foram selecionados.
A eficácia do método Pilates na dor lombar crônica
Independentemente das limitações dos estudos selecionados descritos a seguir, o sucesso do exercício baseado em Pilates na reabilitação da lombalgia é inegável. Devido às diferentes medições e intervalos de intervenção, não há análise estatística de dados possível. Mas, avaliando-se a sequência de uma lista de resultados comparativos, temos que:
- 10 estudos demonstram maiores efeitos benéficos em comparação com outras terapias com exercícios ou com o grupo controle;
- 01 estudo demonstra efeitos benéficos semelhantes em comparação com outras terapias de exercício ou o grupo controle;
- Todos os estudos medem a intensidade da dor (entre outras medidas), o que diminui a intervenção pós-Pilates em todos os estudos.
Limitações gerais na pesquisa em Pilates
Exercícios de Pilates estão sendo usados por fisioterapeutas para apoiar os programas de reabilitação para várias condições musculoesqueléticas, lesões esportivas e distúrbios neurológicos. O foco especial é a coluna vertebral e sua estabilização. O aumento do uso de exercícios de Pilates na dor lombar crônica torna imperativo entender, entre outras características, suas aplicações, suas contraindicações e como usá-lo apropriadamente.
Como numerosos estudos sobre Pilates e lombalgia foram publicados, as seguintes limitações foram observadas:
- Padrões acadêmicos: alguns estudos não atendem aos padrões acadêmicos; os estudos não são ensaios clínicos randomizados ou não são revisados por pares.
- Medições: Alguns estudos utilizam apenas ferramentas subjetivas de análise de dados (escalas e questionários) que avaliam parâmetros como intensidade da dor e incapacidade. Outros também usam testes funcionais, como equilíbrio e flexibilidade.
- Métodos de estudo: Embora o número de sujeitos seja geralmente > 20, o que é satisfatório, os fatores mais significativos observados são as diferenças no comprimento e frequência da intervenção. Quatro semanas foi o menor tempo de intervenção.
A seguir estão inconsistências relacionadas aos padrões de movimento que influenciam a avaliação científica:
- Equipamentos de Pilates: A maioria dos estudos usa apenas exercícios de solo, mas alguns estudos também usam equipamentos, que é uma abordagem biomecânica diferente. Alguns estudos utilizam equipamentos de condicionamento físico ou reabilitação, como bolas, faixas elásticas e rolos de espuma, mas apresentam associação ao Pilates.
- Tipo de exercícios de Pilates: Embora todos os estudos afirmam que utilizam o método Pilates ou exercício baseado em Pilates, as aplicações variam muito. A maioria dos estudos usa o Pilates contemporâneo, nenhum deles usa o Pilates clássico original. O tipo de Pilates também determina outro fator importante, que é a quantidade de exercícios dada.
- Adição de exercícios não-Pilates: Alguns estudos incorporam outros tipos de exercícios, como fisioterapia ou yoga.
Pilates clássico, Pilates contemporâneo e exercício terapêutico
A partir de agora, seguimos com as semelhanças e diferenças do Pilates Clássico, o Pilates Contemporâneo e protocolos de exercícios terapêuticos.
O Pilates clássico usa os nomes de exercícios do Pilates e adere a uma sequência específica de exercícios nas duas principais peças de equipamento: o Mat (colchonete) e o Reformer. Ele usa equipamentos projetados especificamente para Pilates pelo seu criador, Joseph Pilates.
O Pilates contemporâneo usa nomes de exercícios do Pilates, mas não há uma sequência específica. Pilates contemporâneo usa equipamentos de Pilates, bem como outros equipamentos dos campos de fitness e reabilitação.
No exercício terapêutico, por sua vez, não há nomes de Pilates e não há sequência definida.
Diferenças adicionais:
- Repetições: <10x para o Pilates clássico; > 10x para o exercício terapêutico. O Pilates contemporâneo, no entanto, usa ambas as abordagens.
- Área de foco: O Pilates Clássico é o exercício de todo o corpo, independentemente da lesão. No Pilates contemporâneo, é comum incorporar exercícios adicionais dos campos de fitness e reabilitação, por exemplo. O objetivo é, dentre outros, melhorar o recrutamento muscular ideal e resolver fraquezas ou lesões. Os movimentos do exercício terapêutico são, na maioria, específicos do local, para fortalecer a área de lesão ou fraqueza. Assim, existe o estímulo frequente para o aluno recrutar certos grupos musculares.
- Fluxo: No Pilates clássico, o cliente percorre a sequência de exercícios com um máximo de 10 repetições por exercício. No exercício terapêutico, porém, os exercícios são repetidos até alcançar a fadiga do músculo. Por fim, Pilates contemporâneo pode combinar ambas as abordagens.
Limitações: Protocolo de Exercícios Definições e Desafios
A maioria dos exercícios ensinados aos fisioterapeutas nos Estados Unidos para pacientes com lombalgia se enquadra nas categorias gerais da amplitude de movimento da coluna e exercícios de fortalecimento. Estes podem ser descritos como estabilidade de centro, estabilização dinâmica, estabilização lombo-pélvica e de coluna, exercícios de cocontração no Mat ou na bola, exercícios resistivos progressivos com pesos ou faixas elásticas, além de atividades funcionais.
Onde está a fronteira entre esses protocolos de exercícios terapêuticos e o Pilates na dor lombar crônica? Uma comparação dos 11 estudos selecionados mostra que o protocolo de Pilates nem sempre está claramente definido. Ou seja, pode até nem ser Pilates.
Surpreendentemente, dois estudos não fornecem nenhuma informação sobre os exercícios utilizados (Cruz-Díaz et al., 2015 & da Fonseca et al., 2009). Da Fonseca et al. , por exemplo, apenas fornece informações breves sobre os conceitos de recrutamento muscular. No entanto, elas indicam que o protocolo está mais relacionado ao exercício terapêutico do que ao Pilates.
Rydeard et al. (2006) fornece uma descrição mais detalhada sobre os exercícios utilizados. Porém, o protocolo também é sobre estratégias de recrutamento muscular e não menciona nenhum exercício de Pilates. Isso ocorre, ainda que o título do estudo seja: “Exercício terapêutico baseado no Pilates: efeito em sujeitos com lombalgia crônica inespecífica e incapacidade funcional ”.
Wajswelner et al. (2012) promete “Pilates clínicos” no título do estudo, mas usam exercícios terapêuticos que são realizados no equipamento de Pilates. Mas é questionável se o uso de equipamentos faz os exercícios serem exercícios de Pilates.
Por último, cerca de um terço dos exercícios de Mat que Lee em al. (2014) usa são baseados em yoga, como “seated hip stretch (alongamento do quadril sentado)” e “knee over knee twist stretch (alongamento do joelho ao longo do joelho)”. Ou seja, não são Pilates.
Há eficácia do método Pilates na dor lombar crônica?
Apesar dessas questões abordadas aqui, há evidências da eficácia do uso do método Pilates na dor lombar crônica. Assim, o que precisamos é que sejam feitas pesquisas adicionais, revisadas por pares e randomizadas. Porque dessa forma podemos produzir meta-análises cientificamente confiáveis, de preferência utilizando medições similares, durações de intervenções, frequências e equipamentos.
Para uma avaliação científica mais aprofundada, a fim de obter protocolos e resultados de exercícios reprodutíveis, seria desejável uma padronização dos exercícios contemporâneos de Pilates. O Pilates Clássico não foi analisado cientificamente.
Então, ainda que haja essa lacuna com relação aos estudos científicos, o método é, sim, uma fonte segura de tratamento da dor lombar crônica.
Referências sobre Pilates na dor lombrar crônica
Borges, J., Baptista, A. F., Santana, N., Souza, I., Kruschewsky, R. A., Galvão-Castro, B., & Sá, K. N. (2014). Pilates exercises improve low back pain and quality of life in patients with HTLV-1 virus: A randomized crossover clinical trial. Journal of bodywork and movement therapies, 18(1), 68-74.
Cruz-Díaz, D., Martínez-Amat, A., Manuel, J., Casuso, R. A., de Guevara, N. M. L., & Hita-Contreras, F. (2015). Effects of a six-week Pilates intervention on balance and fear of falling in women aged over 65 with chronic low-back pain: A randomized controlled trial. Maturitas.
Cruz-Díaz, D., Martínez-Amat, A., Osuna-Pérez, M. C., De la Torre-Cruz, M. J., & Hita-Contreras, F. (2015). Short- and long-term effects of a six-week clinical Pilates program in addition to physical therapy on postmenopausal women with chronic low back pain: a randomized controlled trial. Disability and rehabilitation, 1-9.
da Fonseca, J. L., Magini, M., & de Freitas, T. H. (2009). Laboratory gait analysis in patients with low back pain before and after a pilates intervention. Journal of Sport Rehabilitation, 18(2), 269.
Dagenais, S., Caro, J., & Haldeman, S. (2008). A systematic review of low back pain cost of illness studies in the United States and internationally. The spine journal, 8(1), 8-20.
da Luz, M. A., Costa, L. O. P., Fuhro, F. F., Manzoni, A. C. T., Oliveira, N. T. B., & Cabral, C. M. N. (2014). Effectiveness of mat Pilates or equipment-based Pilates exercises in patients with chronic nonspecific low back pain: a randomized controlled trial. Physical therapy, 94(5), 623-631.
Por fim, temos: Gladwell, V., Head, S., Haggar, M.. & Beneke, R. (2006). Does a Program of Pilates Improve Chronic Non-Specific Low Back Pain? J Sport Rehabil. 2006,15, 338-350
La Touche, R., Escalante, K., Linares, M. T. (2008). Treating non-specific chronic low back pain through the Pilates Method. J Bodyw Mov Ther. 2008 Oct;12(4):364-70
Mais estudos sobre o tema
Lee, C. W., Hyun, J., & Kim, S. G. (2014). Influence of pilates mat and apparatus exercises on pain and balance of businesswomen with chronic low back pain. Journal of physical therapy science, 26(4), 475.
Lim, E. C., Poh, R. L., Low, A.Y., Wong, W. P. (2011). Effects of Pilates-based exercises on pain and disability in individuals with persistent nonspecific low back pain: a systematic review with meta-analysis. J Orthop Sports Phys Ther. 2011 Feb;41(2):70-80
Van Middelkoop, M., Rubinstein, S. M., Kuijpers, T., Verhagen, A. P., Ostelo, R., Koes, B. W., & van Tulder, M. W. (2011). A systematic review on the effectiveness of physical and rehabilitation interventions for chronic non-specific low back pain. European Spine Journal, 20(1), 19-39.
Miyamoto, G. C., Pena Costa, L. O., Galvanin, T., Nunes Cabral, C. M. (2013). Efficacy of the Addition of Modified Pilates Exercises to a Minimal Intervention in Patients With Chronic Low Back Pain: A Randomized Controlled Trial. Phys Ther. 2013; 93:310-320
Natour, J., de Araujo Cazotti, L., Ribeiro, L. H., Baptista, A. S., & Jones, A. (2015). Pilates improves pain, function and quality of life in patients with chronic low back pain: a randomized controlled trial. Clinical rehabilitation, 29(1), 59-68.
Pereira, L. M., Obara, K., Dias, J. M., Menacho, M. O., Guariglia, D. A., Schiavoni, D., Pereira, H. M., Cardoso, J. R. (2012). Comparing the Pilates method with no exercise or lumbar stabilization for pain and functionality in patients with chronic low back pain: systematic review and meta-analysis. Clin Rehabil. 2012 Jan;26(1):10-20
Posadzki, P., Lizis, P., Hagner-Derengowska, M. (2011). Pilates for low back pain: a systematic review. Complement Ther Clin Pract. 2011 May;17(2):85-9
Quer se aprofundar mais?
Assim, leia: Rydeard, R., Leger, A., Smith, D. (2006). Pilates-based therapeutic exercise: effect on subjects with nonspecific chronic low back pain and functional disability: a randomized controlled trial. J Orthop Sports Phys Ther. 2006 Jul;36(7):472-84
Ademais, temos: Vibe Fersum, K., O’Sullivan, P., Skouen, J. S., Smith, A., & Kvåle, A. (2013). Efficacy of classification‐based cognitive functional therapy in patients with non‐specific chronic low back pain: A randomized controlled trial. European journal of pain, 17(6), 916-928.
Por fim: Wajswelner, H., Metcalf, B., & Bennell, K. (2012). Clinical pilates versus general exercise for chronic low back pain: randomized trial. Medicine and science in sports and exercise, 44(7), 1197-1205.
* Artigo atualizado, originalmente publicado em 17 de julho de 2019.