Texto: Selma França, Educadora Polestar Pilates Brasil.
Como uma musculatura que você usa diariamente e que tem funções tão importantes na sobrevivência pode ser esquecida no dia a dia? Talvez a importância do assoalho pélvico seja quase sempre negligenciada, porque não fica aparente, como o rosto por exemplo, que vemos no espelho ao acordar. É uma área de prazer, que a fisiologia poderia nos lembrar a cada vez que fôssemos ao banheiro, seja para tomar banho ou sentar no vaso. Esse local é também onde acontece o milagre da vida. Entrada do sêmen que mais tarde se encontrará com o óvulo no processo de reprodução.
Com a banalização da nudez e do uso constante da palavra empoderamento, admira-se que mulheres não tenham contato mais direto com essa musculatura no dia a dia. O assunto é sempre falado de forma superficial e pejorativa. Mas existe um esforço dos profissionais, dentro dos consultórios, na tentativa de sensibilizar esse público. O objetivo é prevenir as disfunções que possam ocorrer em consequência do desequilíbrio muscular proveniente dos nossos hábitos culturais. As ciências da saúde focam cada vez mais em estudar profundamente áreas específicas, e já se sabe muito sobre o assoalho pélvico.
Assoalho pélvico x disfunções
Existe também informações desencontradas por parte do senso comum, que causam confusão e podem levar a várias disfunções. Estas impactam na rotina dos pacientes, causando limitações físicas e sociais, interferindo na realização de atividades, relações pessoais, emoções, sono e até na disposição. Por exemplo, é possível citar a incontinência urinária de esforço (IUE). Essa condição, infelizmente tão comum, afeta a qualidade de vida das mulheres, que se acostumam com a situação e muitas vezes não relatam o problema aos profissionais de saúde. Tabu? Receio? Vergonha? Independente do motivo, o fato é que a IUE nada tem de normal, é uma disfunção.
Pesquisas científicas apontam que disfunções no assoalho pélvico acometem mulheres em idades variadas. Porém algumas são mais susceptíveis a ter disfunções nessa região. Por exemplo, as que estão no climatério, ou seja, na transição da fase reprodutiva para a pós-menopausa. Além delas, também é possível citar as multíparas, que são as mulheres que já passaram pelo parto de um bebê com 500 g ou mais ou com 22 semanas ou mais. O conceito engloba tanto o parto de bebês vivos quanto de natimortos, apresentando ou não malformações, normal ou pela via cesárea. Entretanto, há relatos na literatura de jovens nulíparas, ou seja, que nunca tiveram filhos, com sintomas de disfunções nessa região, tais como incontinência urinária de esforço e a anal, durante a prática de esportes.
Incontinência urinária de esforço (IUE)
A incontinência urinária de esforço é considerada a disfunção do assoalho pélvico mais comentada e atinge especialmente as atletas que praticam atividades de alto impacto (Alvarenga de Almeida, 2011). Na incontinência urinária, os fatores de riscos têm a ver com o número de gestações, a paridade, o elevado índice de massa corporal, a constipação crônica, a condição pós-menopausa e também a tosse crônica. A prevalência dos sintomas é 80% em mulheres entre 25 e 60 anos de idade.
Mais sobre o assoalho pélvico
O assoalho pélvico é a única musculatura transversal do corpo, pode-se dizer que ele é o chão do nosso tronco. A parte estriada propriamente dita é formada pelo MAP (músculos do assoalho pélvico). São eles, o coccígeo e três outros músculos que compõem o elevador do ânus (pubucoccígeo, iliococcígeo e puborretal). Todos eles possuem denominações relacionadas às suas conexões ósseas.
A região guarda os órgãos pélvicos, sustenta todo conteúdo do tronco e tem a função de conter a urina de forma voluntária. Além disso, serve de suporte para a cabeça do neném. Recentemente, os cientistas do movimento começaram a falar da relevância do assoalho pélvico na estabilização do complexo lombo pélvico. Um assoalho pélvico “normalizado” pode estabilizar a lombar com seus ajustes posturais antecipatórios. Ou seja, ele ativa antes de alguns músculos do corpo, quando há movimento, protegendo mais a coluna.
Essa musculatura é pequena, mas precisa suportar as pressões exercidas sobre ela. Por isso, é importante seu fortalecimento. Porém, o conceito de força aqui no texto está na coordenação e equilíbrio da musculatura e não no sentido de rigidez. Um assoalho pélvico muito tenso pode causar no indivíduo dificuldade em urinar, obrigando-o a fazer força para expelir o líquido. Além disso, causa também a diminuição do fluxo da urina (urina entrecortada), dor ao urinar e evacuar e sensação de que a bexiga e o intestino nunca estão vazios. Por fim, ainda há dor na relação sexual. Em um indivíduo com os MAPs hipotônicos e flácidos, é possível ainda identificar dores lombares, incontinência urinaria ou fecal, entre outras disfunções. Tudo isso diminui sua qualidade de vida.
Integrando a MAP aos exercícios
Por isso é fundamental conhecer, sentir e ativar essa musculatura, integrando-a aos nossos exercícios de cada dia. É importante também relaxá-la, como toda a musculatura do corpo. Apesar disso, o interesse pelo assunto normalmente só acontece quando a disfunção está presente. Nesse caso, temos que entrar em contato com o profissional especialista para tratar o problema. O Interessante seria preveni-lo, utilizando o conhecimento e as ativações, a fim de modificar posições e hábitos cotidianos que prejudicam mais do que ajudam.
Por exemplo, não se deve fazer força excessiva para expelir fezes ou urina, porque pode ser prejudicial a médio prazo. O assoalho pélvico deve ser visto com naturalidade e como parte importante integrante de qualquer tipo de exercício. Principalmente, aqueles executados com carga excessiva. O fato é que precisamos lembrar que essa área existe e não pode ser algo perdido em nós, pois queremos ser verdadeiramente saudáveis e empoderados.
2 Comentários. Deixe novo
Assunto falado com leveza e tranquilo
Esclarecedor!!
Excelente profissional , sempre acertiva. Obrigada por compartilhar teus ensinamentos! 🌻