Pilates, Assoalho Pélvico e Incontinência Urinária

O público que pratica o método Pilates é formado em sua maioria por mulheres, e mulheres tem características bem específicas, principalmente no que se relaciona com as mudanças hormonais e como essas mudanças afetam tecidos, ainda mais os que compõe a rede de contenção dos órgãos pélvicos: o Assoalho Pélvico.

Dentro do método Pilates, o assoalho pélvico faz parte do sinergismo muscular fundamental na sua prática: O POWER HOUSE. Por isso, muitas mulheres que praticam o método Pilates, principalmente no período do puerpério ou na menopausa , relatam melhoras de sintomas urinários depois que iniciaram suas aulas. Um estudo realizado com mulheres idosas com diagnóstico de incontinência urinaria de esforço, após realizarem o método Pilates visando o fortalecimento do assoalho pélvico, revelou que o método foi eficiente reduzindo as perdas urinárias e aumentando a força muscular do períneo. (GANHO DE FORÇA MUSCULAR DO DIAFRAGMA PÉLVICO APÓS UTILIZAÇÃO DOS MÉTODOS PILATES OU KEGEL EM PACIENTES COM INCONTINÊNCIA URINARIA DE ESFORÇO – CORREA, MOREIRA E GARCEZ – Vol.23,n.2,pp.11-17 (Jul – Set 2015) Revista UNINGÁ Review

Por conta disso, muitos estúdios tem anunciado que o método Pilates auxilia na melhora de força da musculatura do assoalho pélvico. Isso ocorre por alguns fatores:

  1. O sinergismo da musculatura estabilizadora de tronco onde a Musculatura do Assoalho Pélvico é fundamental.
  2. O trabalho postural do método Pilates contemporâneo com enfoque na “coluna neutra”, nas posturas deitada e em pé, sem mobilizações de coluna, onde a pelve se posiciona de forma mais adequada para a postura bípede. Sabemos que as alterações posturais podem ser causa das disfunções do MAP.
  3. O estímulo da contração consciente do Músculos do Assoalho Pélvico coordenada com a respiração.
  4. A prática dos exercícios de solo (MAT) que preparam o corpo para a posição bípede e estimulam a resistência contra a Gravidade.
  5. Praticar exercício físico adequado pode minimizar as Disfunções dos Músculos do Assoalho Pélvico, já que o sedentarismo tem impacto negativo no MAP

Esses são os fatores benéficos do Método Pilates na MAP, porém também surgem alguns questionamentos:

1) A ativação da musculatura do ASSOALHO PÉLVICO é realizada de forma indiscriminada no ambiente de Pilates, ou seja, da mesma maneira para homens e mulheres, muitas vezes sem uma avaliação prévia das reais necessidades individuais.
2) As linhas do método Pilates são variadas no Brasil e muitas formações tem sido realizadas de maneira muito rápida, de forma que o processo de aprendizado do instrutor fique passível de falhas e sujeito a abordagens ineficientes
3) Dentro do ambiente de Pilates há falta de compreensão das funções da Musculatura do assoalho pélvico pelos instrutores.
4) Dificuldade no ensino da ativação da MAP.
5) O estímulo é somente de força , o que pode gerar um períneo tenso e diminuir a capacidade de relaxamento.
6) Compreender a diferença entre reabilitação e fortalecimento muscular , lembrando que na reabilitação o músculo não esta na sua função máxima.

No artigo intitulado “Urinary Incontinence among group fitness instructors including Yoga and Pilates teacher” de Bo, K, Brattlona Sandas et al , da Neurology and Urodynamics, 2011, as autoras avaliaram 1473 instrutores com media de idade de 32 anos e 26,3% reportaram ter incontinência urinária. Diante desse artigo, vem o questionamento de como está sendo ensinado a ativação do Power House e se está havendo um aumento de pressão intra-abdominal durante a execução dos exercícios do método Pilates, que poderia levar a uma disfunção da musculatura do assoalho pélvico.

O assoalho pélvico no método Pilates é o “chão” da nossa casa de força. E como base, ele deve estar bem estruturado. Porém, no ambiente de Pilates encontramos muita dificuldade na ativação dessa musculatura, seja porque nossos alunos/clientes/pacientes não estão acostumados a ter consciência sobre essa região, seja porque os instrutores não possuem uma boa estratégia para estimular a ativação dessa musculatura nas suas aulas. Muitas vezes, o ênfase é de de um acionamento excessivos dos músculos oblíquos para fechar as costelas e , como consequência, há uma pressão das vísceras para baixo, aumentando uma sobrecarga para a musculatura perineal.
Eu escuto muitas queixas dos instrutores dizendo como é difícil ensinar o aluno a ativar o Assoalho Pélvico e como estratégia eles utilizam o comando verbal para o controle dos esfíncteres, que é algo bem perceptível e comum, já que todo mundo os utiliza para as situações de urgência miccional:

  • Segura o “xixi”
  • Prende o “xixi”

É o comando básico para as aulas de Pilates. Porém essa ativação será realizada somente na musculatura superficial do Assoalho Pélvico, justamente na musculatura que precisa também ter boa elasticidade, já que na sua funcionalidade, ou seja, no parto, na defecação etc precisamos da sua capacidade elástica, portanto um estimulo exagerado de ativação da musculatura superficial pode alterar essas funções, além de estressar a musculatura esfincteriana, o que pode acarretar em infecções urinarias.
Já a camada mais profunda, que é composta pelo ELEVADOR DO ÂNUS E ISQUIOCOCCÍGEO, dentro do ambiente de Pilates é pouco ativada, pois requer um entendimento tanto do aluno quanto do instrutor da ativação com intuito de ELEVAÇÃO, como o próprio nome da musculatura nos diz. Para este, o estimulo verbal seria:

  • Eleva seu perineo
  • Sobe o elevador em direção ao seu tórax.

E muitas vezes essas indicações verbais não são suficientes. Temos que dar consciência ao aluno da importância desse entendimento, já que é uma musculatura que interfere:
Na postura
Na vida sexual
No parto
Na contenção dos órgãos
Na continência

Dentro desse contexto, podemos dizer que o método Pilates pode ter influência benéfica na musculatura do Assoalho Pélvico, porém acredito que poderíamos melhorar essa influência de algumas formas:

  1. Maior conhecimento do instrutor de Pilates sobre a MAP e suas funções
  2. Anamnese com perguntas pertinentes ligadas a saúde da mulher como: tipo de parto, perda urinaria, questões hormonais , etc
  3. Parceria com fisioterapeutas pélvicos para a realização de avaliação perineal e foco de trabalho, permitindo um melhor entendimento da individualidade de cada pessoa e trazendo outras estratégias para o ativação da musculatura do assoalho pélvico.

Acredito que um ambiente multidisciplinar, com diálogo e evolução pode trazer uma interação muito rica entre instrutores de Pilates e fisioterapeutas pélvicos.

Assoalho Pélvico, mais que pilates, Pilates e Incontinência Urinária, Revista Mais Que Pilates, Valeria Mauriz
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1 Comentário. Deixe novo

  • Letícia Lopardi steigleder
    12/01/2019 2:16 pm

    Excelente matéria! Realmente sabemos dos benefícios do método e na hora de passar p o paciente é difícil o entendimento …. fiz o curso de mat da Polestar c a Alice Becker q deu uma dica muito boa q tenho usado bastante pedindo o paciente visualizar, imaginar um chafariz q começa no períneo e termina no topo da cabeça e q p o chafariz funcionar temos de sugar esse períneo …. eu simplesmente amei essa palavra . Tem funcionado bem no crescimento axial e melhor ativação da MAP! Adorei a matéria! Parabéns!

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