Altos e baixos das emoções são familiares. Às vezes nos sentimos muito bem (felizes, contentes, agradáveis, com baixos níveis ou ausência de tristeza, frustração ou tédio), às vezes nos sentimos muito mal (muito decepcionados, irritados, com medo, pouco prazer ou excitação), e às vezes sentimos um misto de emoções positivas e negativas (uma ambivalência agridoce). E devido as nossas complexidades diárias de vida, de demandas que apenas aumentam à medida que nosso mundo evolui, somos expostos ao stress por expectativas emocionais atingíveis ou inatingíveis, pelas atividades físicas que praticamos ou deixamos de praticar, por distúrbios químicos, hormonais, por doenças, por traumas na infância, distúrbios psicológicos, depressão, poderíamos citar diversas fontes de stress que acabam transbordando na maneira como nos sentimos a cada dia.
Com o progresso da neurociência e as evidentes descobertas da intrínseca relação entre nosso estado emocional e nosso estado de saúde, bem como com o surgimento de doenças, estamos felizmente cercados de embasamento para afirmar que cada vez mais sabemos que mente e corpo não deveriam ser analisados separadamente. “Muitos psicólogos tratam a mente desassociada do corpo, um fenômeno com pouca ou nenhuma conexão com o corpo físico. Em contrapartida, os médicos tratam o corpo com nenhuma relação com a mente e as emoções. Mas o corpo e a mente não estão separados e não podemos tratar um sem o outro”. Dr. Candace Pert.
A neurocientista Candace Pert (1946-2013), mãe da psiconeuroimunologia, formulou a teoria das emoções, mediada pelos receptores neuropeptídios e sistema imunológico citosina, como agentes que integram a comunicação entre o cérebro e o corpo. Ela acreditava que as emoções eram armazenadas no corpo, nos receptores e que essa comunicação saudável via expressões emocionais era a chave para integrar a mente e o corpo. Ela ensinava que a mente existia tanto dentro como além do corpo, e via que sua principal animação, a consciência e as emoções eram uma forma de tradução das informações entre o corpo e a mente e entre indivíduos e grupos afim de, por exemplo, estabelecer um campo de cura. Práticas de bem estar como somáticas, comportamentais e contemplativas, tinham uma base psicológica e poderiam ser usadas para promover ou aumentar a saúde e a recuperação de doenças pela integração do reparo primitivo do corpo e os sistemas de regeneração, promovendo a interpretação bioquímica e moderna para a Sabedoria do Corpo.
Os estudos não param por ai, nosso tecido conectivo conhecido como sistema de fáscias, é o tecido mais abundante no corpo, amplamente distribuído. Ele faz com que nossos órgãos estejam conectados, nosso sistema músculo esquelético esteja revestido. Estudos recentes têm mostrado que a fáscia é um órgão sensorial absoluto, com muito mais receptores nervosos do que o tecido muscular, abastecida por nervos sensoriais, proprioceptores e outros componentes do sistema nervoso e que armazena eventos físicos de stress, tensões e lesões musculares. Ida Rolf (1896-1979), Ph.D. em bioquímica e criadora da Integração Estrutural ou Rolfing afirma que o corpo afeta a mente assim como a mente afeta o corpo, pois temos a tendência de guardar traumas emocionais não resolvidos nos tecidos, nos aprisionando permanentemente dentro de certos padrões de pensamentos e comportamento.
Tom Meyers, autor do best-seller, Trilhos Anatômicos, afirma que quando o stress é construído no cérebro, só há duas formas de saída – uma é a química corporal. O stress muda as moléculas, os neuropeptídios, que inundam o sistema nervoso e assim mudam nosso humor. Essas substâncias químicas tem uma variedade de efeitos por todo o corpo, não apenas no sistema nervoso. Mas a outra forma da angústia se manifestar é em forma de tensão. O problema com esse padrão piora quando ele fica armazenado permanentemente em forma de tensões crônicas. Ficamos tristes, felizes, com raiva, sem raiva. O problema é com os eventos que acontecem e que permanecem por um longo tempo como raivas e tristezas não resolvidas. Dessa forma, o cérebro continua enviando as mesmas mensagens para os mesmos músculos, então adotamos padrões posturais específicos e depois de um tempo, a mente se molda a esse padrão, os músculos também, as fáscias, a distribuição de energia, e apenas isso é suficiente para causar doenças e a falta de habilidade de movimento.
A Contrologia, mais conhecida como Pilates, foi criada na década de 1920 pelo alemão Joseph Pilates, proporciona condicionamento físico e mental. A Contrologia é definida como a completa coordenação do corpo, da mente e do espirito. Através dela podemos adquirir completo controle do corpo e então através da repetição dos exercícios gradualmente e progressivamente adquirir esse ritmo natural e coordenação associada com todas as atividades do subconsciente. A contrologia desenvolve o corpo uniformemente, corrige posturas erradas, restaura a vitalidade física, revigora a mente e eleva o espírito. Joseph Pilates dizia: “À medida que amadurecemos, nos encontramos habitando em corpos nem sempre equiparados com nosso ego. Nossos corpos estão inchados, nossos ombros encurvados, nossos olhos são vazios, nossos músculos flácidos e nossa vitalidade extremamente baixa, quando não extinta. Esse é o resultado natural de não termos desenvolvido todos os músculos da coluna, tronco, braços e pernas uniformemente a fim de executarmos nossas atividades diárias”. Um dos maiores resultados da Contrologia é ganhar o domínio da mente sobre o completo controle do corpo a partir de uma experiência de movimento positiva com muita consciência.
Através dos exercícios de Pilates, da respiração, da execução de movimentos a partir do alongamento axial e alinhamento, podemos alterar o padrão das fáscias quando se encontram presas a padrões errados tendo sido iniciados no sistema nervoso e transferidos para o sistema muscular devido a traumas emocionais. Se mudarmos as fáscias através de técnicas somáticas como o Pilates, então será mais fácil mudar o sistema nervoso e o sistema circulatório. Em contrapartida se não entrarmos lá e fizermos a mudança, acabamos consolidando um padrão mental de que não podemos mudar e o porquê não se pode mudar. O importante é mudar. Nosso corpo tem a enorme capacidade de plasticidade, temos um tremendo potencial de mudança e precisamos usá-lo. Compartilhamos material genético com nossos pais, mas nossa experiência liga e desliga esses genes e podem fazer isso através das nossas vidas em resposta ao trauma, aos exercícios, a tudo. Mas para realmente mudar a pessoa que somos e mudar os problemas nos tecidos, então será necessária uma mudança profunda no padrão corporal. Esse padrão está no sistema nervoso, no sistema muscular, na fáscia. Uma vez armazenado na fáscia, a liberação precisa ser executada em nível de fáscia.
Há diferentes formas de se fazer isso e nesse caso queremos sugerir o Pilates. A técnica e seus princípios darão aos músculos uma chance de se acalmarem. Os músculos precisam relaxar primeiro e então a fáscia começará a ser alongada e liberada. Isso facilitará um novo padrão que conduzirá a uma liberação permanente das áreas crônicas e, em muitos casos, a uma profunda mudança mental e corporal.
Referências Bibliográficas
Candace B. Pert. MoleculesandEmotion. Simon and Schuster, 2012.
James L. Oschmanand Nora Oschman. Somatic Recall, Part 1 – Soft TissueMemory; Part 2 – Soft TissueHolography. (1995).
Joseph HubertusPilates. Returnto Life ThroughContrologyandYour Health. (1945).
Paul Pearsall. The Heart´sCode. The New FindingsAboutCellular
Thomas Myers. AnatomyTrains. Elsevier, 2014.