Por trás dos movimentos que encantam plateias, existe um enorme sacrifício físico por quem lida profissionalmente com a dança. Muitas dessas dificuldades também são compartilhadas por quem faz da modalidade seu hobby particular. Executar movimentos leves, limpos, elegantes e bem definidos requer um grande conhecimento sobre o próprio corpo, que pode ser potencializado com a prática adicional do Pilates.
O vínculo entre a dança e o método é celebrado desde a criação deste último, e segue firme até hoje, com bailarinos das mais diversas idades utilizando os exercícios elaborados por Joseph Pilates para ampliar sua resistência, força muscular, flexibilidade, bom alinhamento, coordenação, precisão e fluência de movimentos. Além dos inúmeros benefícios à saúde em geral, a prática regular do Pilates é fundamental para o prolongamento da carreira de quem atua com movimentos coreografados, prevenindo ou ajudando a curar lesões.
Antes de aprofundarmos mais sobre todos os atrativos oferecidos pelo método, vamos fazer uma breve viagem no tempo, conhecendo sua origem, sua chegada ao Brasil e como o universo da dança sempre esteve presente nestes momentos.
Joseph Pilates: a criação do método e suas fontes de inspiração
Muito do repertório desenvolvido por Joseph Pilates ao longo de sua vida teve como referência o balé clássico, com sua graciosidade de movimentos. Para entender como a dança esteve presente na vida do criador do método, é preciso voltar à sua infância.
Nascido em Mönchegladbach, na Alemanha, em 1883, Joseph Hubertus Pilates sofreu de raquitismo, asma, bronquite e febre reumática quando criança, encontrando na prática de exercícios físicos uma alternativa para atenuar seu debilitado quadro.
Para revertê-lo, passou a focar em técnicas respiratórias e de movimento e na prática de esportes, como yoga, natação, ginástica, esqui, artes marciais e mergulho, unindo os benefícios promovidos por essas atividades a importantes conhecimentos de anatomia, fisiologia e medicina oriental.
Com tamanho foco e esforço, aos 14 anos sua forma já havia evoluído tanto que ele passou a posar como modelo para desenhos anatômicos.
Em 1912, Joseph Pilates se mudou para a Inglaterra, onde trabalhou como artista de circo, boxeador profissional e treinador de defesa pessoal para detetives na ilustre Scotland Yard.
Dois anos depois, porém, durante a Primeira Guerra Mundial, Pilates foi preso pelas autoridades britânicas ao lado de outros alemães, levados ao Acampamento dos Cidadãos Inimigos dos Britânicos, na Ilha de Man, onde encontraram condições precárias.
Para ajudar a manter o bem-estar físico e mental de seus parceiros de confinamento, ele insistiu que todos participassem de uma série de exercícios que havia elaborado, improvisando molas retiradas da cama e presas na cabeceira para criar um equipamentos no qual mesmo indivíduos acamados pudessem trabalhar sua resistência muscular.
Tais camas com mola foram precursoras de aparelhos que vieram a ser muito conhecidos depois por quem pratica o método: o Cadillac e o Reformer.
À medida que os presos melhoravam seu desempenho, Joseph Pilates aumentava o grau de dificuldade das atividades propostas, estimulando a força e a flexibilidade de todos.
Após a Guerra e de volta ao seu país natal, colaborou com o especialista de dança Rudolf Laban, além de treinar policiais e membro do exército alemão, para o qual foi pressionado a colaborar. Decepcionado com as condições político-sociais de sua pátria, migrou para os Estados Unidos em 1926, conhece sua futura esposa, Clara, no trajeto.
Ao lado do prestigiado New York City Ballet e próximo a diversos studios de dança, o casal fundou um studio em Nova Iorque, onde seria trabalhado o método originalmente criado por Joseph, na época chamado Contrologia. Com o tempo, muitos dançarinos passaram a frequentar o local, para desenvolver sua força e sua flexibilidade ou com a finalidade de ajudar na reabilitação de suas lesões.
Falecido em função de causas naturais em 1967, aos 83 anos, Joseph teve seu legado levado adiante por seus discípulos, muitos deles bailarinos reconhecidos e atletas de elite. Restrito a esse círculo de profissionais a princípio, o Pilates ganhou notoriedade com o público geral a partir da década de 80, quando atingiu um novo patamar de popularidade.
A chegada do método ao Brasil
Em terras brasileiras, o método também foi implementado graças à ação de uma profissional ligada à dança. Em 1991, na cidade de Salvador, a gaúcha Alice Becker inaugurou aquele que foi o primeiro studio de Pilates do país.
Já graduada em dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e tendo integrado o Balé do Teatro Castro Alves em 1984 como dançarina e solista, no ano seguinte, em função de uma grave lesão no joelho, Alice deu uma pausa nas atividades para se voltar ao meio acadêmico, iniciando um mestrado em Coreografia no California Institute of Art, nos Estados Unidos.
Em seu curso, teve acesso pela primeira vez às aulas de Pilates, tendo se apaixonado pelo método após um início sem maior entusiasmo, quando foi convidada por sua professora a testar o “Pilates deitado”, no aparelho Reformer.
Percebendo os benefícios do método para a prevenção e recuperação de lesões ocasionadas pela dança, Alice intensificou seus estudos e iniciou uma formação em paralelo com Marie Jose Blom, referência no universo do Pilates.
De volta ao Brasil, adquiriu um aparelho Reformer e montou seu primeiro studio na sala de sua casa. Com o aumento da popularidade do Pilates na capital baiana, alunos seus, que também eram bailarinos, manifestaram interesse em dar aulas. Com o método em alta, foi preciso migrar as aulas para um ambiente específico para a prática.
Com a dificuldade de importar equipamentos do exterior, Alice montou, ao lado de seu marido (e ex-aluno) Claudio Soares, a primeira fábrica de equipamentos de Pilates do Brasil, ainda hoje
localizada na região de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. Por meio da Physio Pilates, Alice Becker é hoje licenciada para a América do Sul da Polestar Education, autoridade mundial em Pilates, além de atuar como professora de Pilates do Balé do Teatro Castro Alves, auxiliando na preparação dos profissionais da companhia.
Fonte: https://tinyurl.com/wdme7u8
Benefícios do Pilates para dançarinos e bailarinos
Arte visual que demanda controle físico, ritmo e fluidez, a dança exige de seus praticantes um alto desempenho. Para ajudar no alcance de níveis cada vez mais altos, a formação de um bailarino profissional pode ser bastante diversa, agregando ensinamentos de outras modalidades.
Compartilhando princípios similares, o trabalho de Joseph Pilates sempre esteve próximo do universo da dança, sendo utilizado para aprimorar a performance de seus praticantes por meio de melhorias na precisão, concentração, centralização, respiração, fluidez e no controle, elementos que formam a base do método.
Profissionais de diversas companhias ao redor do mundo têm experimentado os benefícios do Pilates há décadas. Apesar da metodologia visar o bem-estar de pessoas das mais diferentes idades, os bailarinos estão entre aqueles que mais aproveitaram seus exercícios para o aprimoramento técnico, melhorando seu rendimento.
A técnica prioriza a qualidade na execução dos movimentos, não a repetição ou o tamanho da carga, trabalhando bastante a musculatura interna, que é bem exigida para quem dança.
Por ser um sistema de baixo impacto, que utiliza o peso do próprio corpo ou aparelhos com molas em suas atividades, o Pilates permite treinar os movimentos de forma mais segura, coordenada, precisa e alinhada, possibilitando uma performance de excelência para quem pratica.
O método também promove a economia de energia nos movimentos realizados, garantindo que a musculatura correta seja trabalhada de forma eficiente.
Alívio das dores e prevenção de lesões
Para quem trabalha com a dança, o convívio regular com a dor é uma realidade. Tendo o corpo como instrumento de trabalho, uma das características de quem atua no ramo é a repetição excessiva de movimentos em busca do seu refinamento, que podem incluir sequências de giros, saltos, levantamentos e acrobacias.
Como consequência dessa repetição, é comum que surjam desequilíbrios musculares, sobrecarga nas articulações, modificação das curvaturas da coluna e lesões nos pés, joelhos,
tornozelos e quadris, que podem ser agravadas após horas de ensaio e de prática.
O Pilates promove um trabalho de fortalecimento e alongamento muscular para todos os grupos musculares do corpo, oferecendo uma maior estabilidade e capacidade de absorver cargas. O método também oferece a possibilidade de trabalhar de maneira específica com os pés, a base de todo dançarino.
Praticar seus exercícios não estimula a hipertrofia, deixando a musculatura alongada sem adicionar volume ao corpo. É um grande aliado para traçar uma estratégia motora adequada, diminuindo assimetrias, gerando amplitude de movimentos, melhorando o centro da gravidade e trabalhando o padrão respiratório, tornando a mente bem treinada e o corpo tonificado.
Além de todos esses benefícios, o Pilates também auxilia na prevenção e na recuperação de lesões, um dos fatores mais importantes para quem tem a dança como profissão ou hobby.
Pilates + dança: considerações finais
Hoje, graças aos ensinamentos de Joseph Pilates, pessoas dos mais diferentes perfis e locais do mundo podem contar com uma modalidade de exercícios capaz de proporcionar o bem-estar físico e mental.
Para quem atua com dança, em especial, incorporar esse tipo de treinamento a sua rotina apresenta um grande potencial para elevar seu rendimento, adquirindo movimentos mais conscientes, harmoniosos, precisos e fluidos, ideais para alavancar sua performance nos ensaios e nas apresentações.
Para aproveitar ao máximo os benefícios oferecidos pelo Pilates, cada praticante deve buscar, com o auxílio de profissionais especializados, um programa que atenda às suas necessidades individuais.
E você, já combinou essas duas atividades? Conte para a gente o que achou!