Durante uma aula de movimento, o uso do toque é peça fundamental para a execução de um exercício. Tanto para quem ensina quanto para quem pratica, tocar e receber o toque faz parte da busca pelo alinhamento ideal, da correção e serve como guia do corpo no espaço que ocupa. Mas, terá o toque outras funções e qualidades? E por qual motivo algumas pessoas o estranham e o repelem?

Aristóteles nos chama a atenção para o fato de que não existe nada na consciência que já não tenha sido experimentado antes pelos sentidos, e o tato, é um deles. Juntamente com a visão, olfato, audição e paladar, o tato compõe o que chamamos de sistema sensorial, responsável por enviar informações ao sistema nervoso central, que por sua vez, analisa e processa as informações recebidas.

Quando nascemos, a pele é o primeiro sistema sensorial que se desenvolve. Desde a vida intra uterina quando o feto se toca, sentindo as contrações do parto em seu corpo até a amamentação, a pele é, sem sombra de dúvidas, a ferramenta de amadurecimento mais importante que dispomos. Através do contato com a mãe, o bebê se desenvolve com mais saúde física, psicológica e emocional, e caminha para uma infância de exploração e descobertas tocando, lambendo e colocando na boca o que passar pela frente. É assim que esse sistema cria memórias que nos servirão de referência em situações semelhantes em outros momentos do crescimento, sendo vitalmente necessária para a sobrevivência do organismo.

Através de sensações táteis criamos elos significativos com as pessoas e através delas podemos exprimir toda uma gama de emoções conhecidas: ódio, amor, prazer, insegurança, medo, ansiedade, alegria… Podemos usar as palavras para falar de sentimentos, mesmo quando eles não são verdadeiros, mas é a nossa pele que dirá o que realmente sentimos. Na ausência de algum dos sentidos, outro acaba se desenvolvendo de forma mais aguçada, e citando o tato, é o caso de incríveis massoterapeutas cegos que tem em suas mãos uma ferramenta sensitiva e de cura apurada e do grande compositor Ludwig van Bethooven que foi perdendo a audição gradativamente até que ao compor a Nona Sinfonia, estava tão surdo que mandou cortar totalmente as pernas de seu piano assentando-o no chão. Dessa maneira ele tocava as teclas e colocava seu ouvido no chão a fim de sentir as vibrações de suas notas.

Logo, o toque é uma linguagem e através dele nos comunicamos com o mundo externo e este se comunica conosco. Talvez por isso, um abraço, um aperto de mãos, um arrepio, um roçar de pernas, um tapa, um carinho nas costas possam expressar mais do que simples palavras, alcançando à flor da pele, onde a razão não tem controle.

E mesmo com tanta importância, é comum encontrar pessoas cheias de “não me toques”, no sentido de não aceitarem ou não suportarem ser tocadas. Padrões sociais e religiosos que tratam do corpo como algo a ser escondido, reprimido e exclusivo nos levaram, e levam, a uma humanidade de intocáveis incapaz de se relacionar por meio de afetos carinhosos mas exaustivamente “tocante” de smartphones, tablets e outros touch screens. A impessoalidade imposta por nossa sociedade tecnológica que nos priva das experiências sensoriais, afasta nossos sentidos e sentimentos, como se estivéssemos muito tempo na escuridão e ao vermos uma luz, somos ofuscados e por consequência tendemos a evitar a luz, ou nesse caso, o toque. Vamos evitá-lo.

Além de tudo isso, a eficácia do toque é rápida. Estudos da Universidade de Purdue (Indiana, EUA), mostram que o tempo de reação a um estímulo tátil é igual a metade do tempo de um estímulo visual, logo, torna-se uma ferramenta preciosa de correção em nossas aulas! Quando o toque é usado adequadamente e tem um propósito claro, pode conectar o aluno e o professor, facilitando a aquisição de novos padrões de postura e organização de movimento.

A menor distância entre dois corpos é o toque. Quando tocamos alguém, tocamos cada evento experienciado por ele, tocamos seu passado, seu presente e seu futuro e por breves instantes seguramos todo aquele ser e por ele somos responsáveis. Como vimos, além de guiar, alinhar e corrigir, o toque tem virtudes que podem não só transformar o movimento de alguém mas também sua presença, consciência e conexão. Usemos com respeito e sabedoria essa ferramenta ímpar que possuímos para através de nossas mãos ajudarmos na transformação dos indivíduos e do mundo pelo movimento!
“Eu sei que tocar foi, ainda é e sempre será a verdadeira revolução.”
Nikki Giovanni
Bibliografia
MONTAGU, Ashley. Tocar – O significado humano da pele.
DAVIS, Carol M. Complementary therapies in Rehabilitation.
POLESTAR Pilates. Teach by touch, Alexander Bohlander (Youtube)
www.psicologiafree.com.br
www.angelitascardua.wordpress.com

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