O conceito do profundo, na prevenção ou na dor

Por Alexandre Ohl

O Pilates é uma atividade única e complexa, onde o conceito do profundo, com a utilização de grupos musculares profundos sendo acionados para que haja otimização dos movimentos, se relaciona fortemente à capacidade do profissional em ter também um profundo conhecimento do que faz.

Quem de nós, profissionais, já não fez a mesma correção com um mesmo cliente diversas vezes? Por que alguns respondem prontamente ao que se pede e outros não? Por onde devemos começar o processo de melhorarmos o que oferecemos aos nossos clientes?

O êxito está em ampliarmos os nossos conhecimentos, nos integrarmos à ciência e a utilizarmos ao nosso favor. Abordaremos a estabilização lombo-pélvica para prevenção e o tratamento das lombalgias e outras patologias e disfunções, como assunto principal, pela grande incidência de clientes procurando o Pilates como meio de não fazer parte de uma porcentagem enorme da população mundial que sofre e sofrerá com essas questões.

Falando tecnicamente sobre a questão, no que se refere aos grupos musculares profundos,estabilizadores do tronco e da pelve, diversos estudos, de diversos autores nos mostraram alguns achados.

Sabe-se que o transverso do abdome é o principal músculo gerador de pressão intra-abdominal, reduz a circunferência abdominal, consequentemente a compressão axial e as forças de cisalhamento sobre as vértebras, este grupo muscular também tem uma ação antecipatória ao movimento, ou seja, contrai milissegundos antes de uma ação muscular. Há também uma ação muscular antecipatória nos músculos multífidos, evidenciando a função estabilizadora dos mesmos sobre o tronco. Em indivíduos sem dor encontrou-se também uma independência da contração do transverso do abdome com relação aos músculos mais superficiais da parede abdominal, enquanto indivíduos com histórico de dor podem apresentar falhas nestes padrões de controle como o atraso da sua contração antecipatória e a substituição compensatória de sua função por meio da solicitação de músculos globais, direciona um mecanismo chamado reflexo de inibição que pode explicar respostas musculares alteradas como a não ação antecipatória dos estabilizadores profundos e a maior ação dos grupos superficiais.

Há também registros de diversos autores que discutem a capacidade da manutenção da contração destes estabilizadores, ou seja, o tempo de contração também influência na saúde e na provável ausência de dor na região lombar. Paul Hodges e outros autores ressaltaram também a relevante função estabilizadora do transverso abdominal e dos multífidos em interação com os músculos do assoalho pélvico. Urquhartet al (2005) observou que realizando a contração abdominal e a retroversão da pelve, a ação do transverso do abdome diminuía, concluindo que se faça a contração sem a associação à pelve. O posicionamento da pelve também depende de várias ações musculares dos músculos das pernas e da relação de apoio dos pés no chão, ou seja, amplia-se o olhar para o ser humano de forma integral.

Apesar da especificidade destes estudos, não basta apenas que saibamos destas informações, o importante é que há diversos aspectos que determinam a forma de trabalhar, estejam as pessoas com dor ou não, como por exemplo o controle motor, a capacidade de assimilar, se adaptar e se acomodar aos novos estímulos e a sugestão de novos padrões de comportamento motor, e isto passa por uma ampliação do nosso olhar, outros tipos de abordagem e correções mais elaboradas e adequados ao indivíduo, necessitando um olhar mais criterioso à questão, que contemple não só a biomecânica, a fisiologia, mas também a psicologia e a neuro ciência, que nos façam compreender melhor como melhorar as nossas correções, feedbacks, estreitando também o nosso conhecimento de cada indivíduo, de cada corpo.

O que estamos querendo dizer é que o Pilates nos abre um universo gigantesco de opções e interações, de estudo e de aprimoramento e se tivermos esta visão tornaremos a nossa área de trabalho ainda mais complexa, mas com mudanças também profundas em todos aqueles que a nós se vincularem em busca de um bom trabalho.

Quanto mais a fundo vamos, mais nos apaixonamos por esta especial ferramenta, chamada Pilates, sendo o que mais nos diferenciará será agirmos no sentido de usá-la cada vez mais adequadamente e profundamente a cada um, respeitando a individualidade e respaldando-se nas diversas áreas da ciência para minimizarmos os nossos erros.

Com esta intenção, nos meus próximos artigos abordaremos sempre temas que nos levem a ter mais subsídios para que possamos nos aprimorar e levar sempre o melhor a quem nos procura.

Referências bibliográficas:

GWENDOLEN, A. Jullet al. Motor Control problems in patients with spinal pain: a new direction for therapeutic exercise – Journal of manipulative and physiological, Feb. 2000, vol 23, pp 115-117.

HIDES, J. et al. An MRI Investigation Into the Function of the Transversus Abdominis Muscle During “Drawing-In” of the Abdominal Wall, Spine 2006, volume 31, Number 6, pp E175–E178.

HODGES, Paul W. Pain at motor control: from the laboratory to rehabilitation – jornal of electromyography and kinesiology, 2011, vol 21, pp 220 – 228 – Elsevier .

RICHARDSON, C. et al. Fisioterapia para estabilização lombo-pélvica: um sistema de controle motor para tratamento e prevenção da lombalgia; [tradução de Vânia Canto Buchala].- São Paulo: Phorte, 2011. 320 p.
URQUHART, D. et al. Abdominalmuscle recruitment during of voluntary exercises; Manual Therapy 10, 2005, 144-153

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