O mercado do método Pilates no mundo. E nós no Brasil?

Desde o ano de 2006 o American College of Sports Medicine (ACSM) vem promovendo uma pesquisa, a Worldwide Survey of Fitness Trends, com a finalidade precípua de levantar dados que orientem a indústria de saúde e fitness nas tomadas de decisão sobre investimentos para o crescimento empresarial.

Estas, são baseadas nas tendências emergentes identificadas por profissionais de todo o mundo que atuam nas diferentes áreas deste mercado, a cada ano. Os resultados levantados são publicados, detalhadamente, no ACSM’s Health & Fitness Journal ® revelando o rigor estatístico das hipóteses e tendências para o ano seguinte. Uma das propostas da pesquisa é identificar, entre os diversos produtos disponíveis, o comportamento e os resultados longitudinais, dos mesmos no que se refere a modismos ou tendências. As atividades que permanecem bem ranqueadas e que, ao longo dos próximos anos, seguem sendo consumidas, são identificadas como tendências e passam a ser incorporadas ao amplo espectro das atividades corporais praticadas em todo o mundo. Suas oscilações de consumo seguem mudanças sazonais que variam de acordo com necessidades particulares em cada canto do mundo. Aquelas que apresentam comportamentos frágeis no que se refere à permanência e deixam de ser consumidas nos anos seguintes, são identificadas como modismos que tendem a entrar em desuso.

O mapeamento do Método Pilates nesta pesquisa vale a pena ser analisado, já que mostra momentos de grande popularidade seguidos de uma espécie de acomodação do seu consumo no mercado internacional. Na prospecção para 2008 e 2009 o Método Pilates surge pela primeira vez no ranking do ACSM, entre os top ten, em sétimo lugar, ao lado de outras atividades voltadas para a funcionalidade do corpo, tais como o fuctional fitness e os core training, sugerindo que o mundo, naquele momento, estaria em busca de atividades que promoveriam maior eficiência nas atividades diárias do que melhora do desempenho atlético e da performance.

Em 2010 o Método Pilates fica ranqueado em nono lugar, confirmando-se como tendência, durante um período de três anos em todo o mercado mundial. Nos anos subsequentes, não aparece mais na lista dos vinte primeiros colocados, sugerindo-se que ocorre um importante reposicionamento das preferências mundiais no que se refere à atividade física e saúde. Desde o ano de 2011 observa-se um movimento mundial crescente em busca de práticas corporais que exigem um desempenho mais vigoroso do corpo, que estimulam a melhora da resistência cardiovascular ao estresse físico e uma performance mais atlética do movimento. Esta tendência permanece nas prospecções para 2018 e apontam o Método Pilates posicionado, nesta pesquisa, em trigésimo quarto lugar nas preferências mundiais do mercado de fitness e saúde.

E nós aqui no Brasil, como percebemos a inserção e o desenvolvimento do método neste país, ao longo dos últimos 25 anos? Como vem ocorrendo a sua emancipação como prática de movimento em suas diferentes funções? Que resultados consegue promover nos corpos de seus praticantes de forma que tais benefícios justifiquem o seu consumo?

Há 21 anos convivo e colaboro com a produção de um mercado de saúde no Brasil, trabalhando com o Método Pilates, pois entendo o movimento como abordagem de excelência para o restauro funcional, já que é matricial na nossa espécie. Por todas estas razões, sinto-me, compelida a refletir sobre o tema.

Atualmente, as dificuldades e os desafios são completamente diferentes do tempo, quando poucos sabiam o que era Pilates. Minha primeira paciente levou cerca de um ano para compreender que não praticava Realinhamento Postural Global (R.P.G.), método que gozava de grande popularidade na época. Antes, tínhamos que explicar aos clientes os milhares de benefícios promovidos pelo Pilates em listas intermináveis que lhes provocavam, certa desconfiança, tamanho o alcance estimado de suas aplicações. Havia dificuldade em definir e elencar o que, essencialmente, provocava o Método Pilates na saúde de seus praticantes. Os anos de prática e de experiência simplificaram o entendimento, Pilates “toca a percepção, revigora a matriz neuro-motora da espécie, promovendo o encontro do indivíduo consigo e estimulando a sua capacidade de auto-regulação”.

Os anos vem passando e tudo se expandindo por aqui, os estúdios, os cursos, os equipamentos, os acessórios, com uma imensa proliferação de profissionais nas diferentes áreas de onde se originam, da dança, da educação física e da fisioterapia. Nestes esforços de emancipação do método no mercado brasileiro, vem ocorrendo um crescimento aligeirado dos diversos segmentos e concretizando-se uma espécie de irônica contradição, a falta de controle sobre a evolução da Contrologia.

Hoje, no Brasil, por muitas razões investe-se neste mercado, o que é inestimável para seu desenvolvimento como uma forma de atividade corporal comprometida com a promoção da saúde. O que nem sempre têm sido eficientes, são os procedimentos que multiplicam de forma desenfreada a produção de seus produtos, muitas vezes, comprometendo a sua qualidade e, consequentemente, a percepção social do seu alcance.

A consistência dos processos de formação profissional, bem como o conhecimento técnico necessário para a construção de equipamentos adequados, são variáreis fundamentais para assegurar a excelência de um mercado ainda em franca expansão neste país. Além disso, e, principalmente, seguir caminho mantendo o foco nas matrizes conceituais propostas e aplicadas pelo seu criador, contaminadas, vigorosamente, pelo seu convívio com o Turnerismo. Um movimento sócio-filosófico fundado na Alemanha do século XVIII, que salienta a imensa importância da prática de atividades físicas de forma regular e progressiva para a promoção da autonomia e da longevidade.

A ABRAPI (Aliança Brasileira de Pilates) da qual tive a oportunidade de participar direta e ativamente, representou um dos maiores esforços de saneamento do método Pilates no país, entre os anos 2008 e 2014. Constituindo sua diretoria, ao lado de outros importantes nomes do Pilates brasileiro, como Alice Becker, Cristina Abrami, Eduardo Fraga, Silvia Gomes, entre outros, compartilhamos sempre o consenso de que a qualidade dos processos de formação de profissionais, e especialmente ela, poderia assegurar uma expansão ordenada e saudável do método em todo o país. Conferimos em assembleias realizadas em diversos estados brasileiros, a anuência pública sobre a exigência da graduação em uma das seguintes áreas: dança, educação física ou fisioterapia, como exigência mínima para o aceite e a participação em processos de certificação no método no Brasil.

A ABRAPI fundamentou seu propósito na tentativa de definição de parâmetros de qualidade, de designações de nomenclaturas e esclarecimentos sobre os movimentos originais, na orientação de profissionais em suas diferentes áreas de atuação, na definição de programas de educação e de educação continuada com respectivas cargas horárias e competências profissionais. Uma ideia orientava nossas ações, compreender o mercado brasileiro e criar uma identidade nacional para o desenvolvimento profissional. Os esforços de todos estes anos foram interrompidos, ao ser constatado que existiam divergências estruturais e conceituais entre os próprios profissionais que, de alguma forma, praticavam Pilates no Brasil. Que alinhar possíveis parâmetros consensuais e definir cruzeiros norteadores para prática profissional seriam desafios inglórios e pouco produtivos.

Analisando todo este panorama e contextualizando as diversas variáveis, percebe-se uma concorrência cada vez maior no país, movida por alguns equívocos técnicos, por parâmetros de qualidade mal delimitados e por um empoderamento mercadológico que vem se tornando frágil e impreciso.

Precisamos refletir, com certa urgência, sobre dois tipos diferentes de concorrência. Uma relacionada com o próprio sistema Pilates, promovendo ações de saneamento que priorizem os conceitos essenciais e orientem o lançamento de produtos genuínos no mercado brasileiro. A outra, relacionada com as diversas práticas de atividade física no mundo, tentando identificar as demandas contemporâneas nesta área e promovendo adequações devidas que atendam mais especificamente às necessidades dos indivíduos em geral. Ações que emancipem o diálogo do método com o universo das atividades físicas em todo o mundo, uma vez que o tem grande potência e competência neste sentido. É momento de inovar e de refletir sobre o que pretendemos para um Pilates do futuro no Brasil e no mundo.

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1 Comentário. Deixe novo

  • Sim, um momento delicado deste método no Brasil e no mundo. Preservar a qualidade de sua aplicação, através da manutenção de seus princípios e fundamentos é indispensável neste momento complexo e caótico que vivemos. Bem importante o que você traz sobre este diálogo com as demandas contemporâneas de movimento e saúde. Seguimos pesquisando os caminhos de como cultivar e ver crescer e se desenvolver de forma saudável, um trabalho revolucionário que tanto contribui com o autoconhecimento.

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