O Método Pilates, diferentemente do que temos observado na construção das técnicas de Dança, Yoga, Artes Marciais etc…, tem apenas um criador, graças a isso podemos dizer que é “único” e muito mais que um conjunto de exercícios, desta forma afirmo que “Pilates é uma filosofia de vida” e se ministrado sem os seus princípios básicos torna-se apenas uma ginástica qualquer. Assim muito bem descreveu Roble (in PANELLI e DE MARCO, 2016):
“Como qualquer entusiasmo, o apego à superficialidade do fenômeno pode produzir uma atrofia dos fundamentos e uma espécie de mistura com outras práticas e saberes, configurando um quadro no qual a aparência do exercício torna-se mais central do que sua essência.”
Hoje em dia é possível praticar Pilates em qualquer esquina, clube, escolas… assim como era o desejo de Joseph Pilates, entretanto, o que é ensinado em um local e outro é completamente diferente além de ser muitas vezes “muito distante da técnica original”.
Em vista da elevada popularidade conquistada pelo Método Pilates muitos passaram a se interessar em aplicar a técnica, mas sem a devida formação como também sem passar por um período de treinamento constante e preparo para aprofundar o conhecimento e desenvolver o Método em seu próprio corpo. Lembrando a frase cérebre de Joseph Pilates: “pratique cem vezes em seu corpo antes de tentar ensinar…”
Muitos finalizam um curso de formação e já se intitulam “professores de professores”, outros tem ainda a pretensão de formar instrutores em um final de semana… Isso faz com que se adquira um conhecimento “raso” sobre a técnica. Não é à toa que temos celebridades em Pilates que surgem de um dia para outro.
Para se fazer bem feito, é preciso “tempo” para que se possa ter o devido aprofundamento e a devida experiência para conseguir inspirar e poder transmitir ao outro. É durante o processo de formação que o profissional adquire condições para se tornar um melhor ser humano e também um diferencial no mercado. Aprofundar seus conhecimentos e praticar no corpo para permitir o aprendizado completo mental, corporal e enfim poder verbalizar de forma eficiente. Esta é a didática de ensino que diferencia um profissional do outro.
A “Contrologia” ou “a arte do controle do corpo” juntamente com os seis princípios básicos: concentração, respiração, centralização, precisão, fluência e controle estão intrínsecas na técnica o tempo todo e sem a sua utilização, o Pilates perde a sua essência, a sua identidade, a sua autonomia como técnica eficiente sem suas bases de apoio.
Romana Kryzanowska, foi uma das alunas de Joseph Pilates, e que por anos transmitiu os ensinamentos clássicos à segunda geração de instrutores. Ela tornou-se aluna de Pilates e, posteriormente, professora em 1942, sob sua supervisão depois de muitos anos de prática e estudos com seu mestre. Foi uma das professoras da primeira geração de instrutores que dedicou-se ao ensino da técnica em sua forma mais original.
Sari Mejia Santo, sua filha, foi introduzida no Método desde a infância, e continua a tradição do ensino do Método em sua forma original, juntamente com os instrutores certificados por Romana Kryzanowska. O conhecimento que possui em relação a “Obra verdadeira” criada por Joseph Pilates é realmente algo admirável e construído através de muitos anos de prática e estudos.
Então o Método é aprendido de forma sensorial corporal além do aprendizado mental. Pilates é corpo, mente e espírito como muito bem definiu seu criador citando inúmeras vezes em suas obras esta trindade.
Joseph Pilates relata como praticava seu método com convicção e assiduidade, desta forma, como praticante e pesquisadora insisto em alertar sobre o “sucateamento de seu método”, como muito bem definiu Roble (in PANELLI e DE MARCO, 2016), que tem ocorrido nos dias de hoje.
O Método Pilates combina princípios da calma, concentração, relaxamento e flexibilidade, ao mesmo tempo em que interage com a força, o desenvolvimento do tônus muscular e o movimento, da mesma forma que uma aula de dança tem um fluxo constante de movimentos sem parada do início ao fim. Não é um sistema de exercícios em circuito, nem tampouco movimentos demasiadamente lentos e explicativos.
Como definiu Peter Fiasca: “Pilates Clássico não é fisioterapia” (Discovering Pure Classical Pilates, 2009, p. 20).
Ou também Alicia Ungaro: “Pilates é exercício. É um regime de treinamento físico com base no corpo em seu estado mais natural – em movimento” (Pilates Body in Motion, 2002, p. 08).
Outro importante dado sobre o Método Pilates Clássico é que Joseph Pilates ensinou a estimular os 90% saudáveis do corpo, ao invés de ficar “super-analisando” a condição física do cliente e reforçando seus pontos fracos como a má postura, suas fraquezas musculares etc…. Nós aprendemos a enfatizar e trabalhar com o movimento e a “Cura através do Movimento”, assim como Romana descobriu em suas primeiras sessões com Pilates conforme publicado em PANELLI e DE MARCO (2016 p. 30):
“Bem mocinha, faça cinco aulas. Se funcionar continue. Se não, leve o seu dinheiro de volta”. Assim Romana passou a fazer aulas com Joseph Pilates e na sua primeira sessão, estranhou o fato de que, para apenas uma lesão de tornozelo, tivesse que exercitar todo o corpo, com exercícios não específicos para a área lesionada. Após a sua terceira sessão, notou que já não havia inchaço e não sentia mais dor. Assim, compreendeu o primeiro princípio deste trabalho: “circulação é o que cura”. Quando retornou às aulas de ballet, notou que tinha mais força, equilíbrio corporal e domínio de seus movimentos, além de estar totalmente recuperada. Foi nomeada “ajudante” o que a isentou do pagamento das aulas. Tornou-se aluna de Pilates e, posteriormente, professora, em 1942, sob a supervisão deste.
Desta forma, posso inferir que há uma filosofia embasada no Método Clássico que diverge e muito da que tem sido utilizada por muitos profissionais no mercado transformando o Método em uma ginástica comum.
Somente será possível conhecer o que é Pilates verdadeiramente através de um profissional oficialmente habilitado e com currículo que oriente de onde vem seu conhecimento. Pode-se observar hoje em dia, muitas empresas e profissionais ministrando cursos de Pilates, entretanto o currículo desses profissionais demonstra que ainda há pouco tempo de prática e aprofundamento no Método. Como também poucas experiências com renomados instrutores. Ou também tantas modificações, adaptações, nos exercícios e nos equipamentos que se distanciam muito do que vem a ser Pilates de verdade.
Pilates é movimento de Corpo, Mente e Espírito!
É a “arte do controle do corpo”… Mas é antes de tudo uma filosofia de vida!
Alerto a vocês praticantes, instrutores e aos que se dedicam à divulgação da Técnica de Pilates, para que possamos fazer com que mais pessoas se aproximem do sonho de Joseph Pilates no qual podemos nos “curar” e viver de forma mais plena e saudável através dos exercícios que ele desenvolveu. E que o ser humano e seu corpo vivam uma proposta corporal/espiritual/mental verdadeira e não apenas baseada na teoria, mas no desafio de instigar seus mais profundos sentidos possibilitando a criatividade e a motivação da prática da atividade física. Para ser realmente bom é necessário fazer algo que realmente se tem vivência.
Para que isso ocorra, precisamos que todos que se interessam pela técnica, seja praticando ou ensinando, busquem efetivamente profissionais com currículo diferenciado para ser seus mestres. É preciso ir em busca de qualidade! A aprendizagem verdadeira abrange idéias e sentimentos, é a verdadeira relação educando/educador. Alves muito bem definiu: “Controle de qualidade é controle de prazer. Gestão de qualidade é gestão de prazer. Qualidade total é prazer total (…)” (ALVES, 2000, p.134).”
Somente assim será possível conhecer o Método Pilates em sua profundidade.