Abordando a dor lombar no Pilates

Abordando a dor lombar no Pilates

Se a gente pensar que a dor lombar pode atingir até 65% da população por ano e que, aproximadamente, 85% das pessoas em algum momento da vida terá dor lombar, entendemos mais ainda porque o método Pilates é tão procurado por essas pessoas. Tenho certeza que todos atendem no Pilates pessoas que estão com dor lombar há muito ou há pouco tempo ou que já tiveram dor e atualmente estão sem dor. Por esse motivo, hoje venho trazer algumas atualizações e recomendações sobre o assunto e como devemos abordar essas pessoas em nosso ambiente do Pilates para ter resultados ainda mais positivos.

Um dado importante para nós que trabalhamos com Pilates é que maior parte das dores lombares não tem uma causa específica, como fraturas, doenças degenerativas, tumores ou infecções. A maioria das lombalgias tem múltiplas causas, que incluem idade, sedentarismo, obesidade, profissão, doenças associadas (como disfunções respiratórias, renais), estado emocional, posturas e sobrecarga. De todos esses fatores, o sedentarismo é o que parece apresentar maior impacto no desenvolvimento de dor lombar. Isso nos mostra a importância das pessoas com dor lombar manterem uma rotina de exercícios.

Em 2018 um grupo de pesquisadores publicou na The Lancet, uma das revistas mais conceituadas de ciência do mundo, uma revisão sistemática da literatura dividida em três artigos sobre dor lombar. Abaixo faço um resumo das principais recomendações citadas nesses estudos para pacientes com dor lombar crônica em tabelas, e mostro como podemos aplicar esses conhecimentos em nossa prática do Pilates com esse público com evolução de mais de 12 semanas dos sintomas.

Educação e auto-cuidado
Conselho para manter-se ativo1ª linha de tratamento
Educação1ª linha de tratamento
Calor SuperficialNível de evidência insuficiente

Isso nos mostra o quanto é importante orientar nossos clientes a manter suas atividades do dia- a-dia, não priorizando o repouso. Nossa orientação deve ser para que eles façam suas atividades normais sem que os sintomas se intensifiquem, no caso de piora, devem dar uma pausa, até a melhora, mas nunca devemos recomendar o repouso. O mesmo é valido para as aulas de Pilates.

Nossas orientações e explicações sobre o problema e deixar o aluno/paciente bem esclarecido e sem dúvidas sobre sua condição é muito importante para a boa evolução dos sintomas. É importante que se a aborde a dor lombar como um sintoma e não uma doença e sempre ressaltando que a participação ativa deles é de fundamental importância para a melhora.

Sempre temos quem nos pergunte sobre usar bolsa de água quente ou mantas térmicas, não é mesmo? As evidências não mostram como eficiente o uso para o tratamento da dor com evolução de mais de 12 semanas, portanto, não devemos incentivá-los a utilizar.

Terapias não farmacológicas 
Exercícios terapêuticos1ª linha de tratamento
Terapia cognitivo-comportamental1ª linha de tratamento
Massagem2ª linha de tratamento ou adjuvante
Manipulações vertebrais2ª linha de tratamento ou adjuvante
Yoga / Mindfullness para redução do stress2ª linha de tratamento ou adjuvante

O Pilates pode ser considerado dentro dos exercícios terapêuticos uma ótima escolha para quem tem dor lombar há muito tempo. É uma atividade bem controlada e supervisionada, e como o Guideline propõe, uma atividade que seja rotineira. O Pilates acaba sendo uma atividade que a pessoa mantem por muito tempo, sem inicio meio e fim, como muitas vezes acontece nos atendimentos de fisioterapia, principalmente quando se trata por plano de saúde, que limitam o número de sessões. Os exercícios na dor lombar crônica devem ser contínuos, mesmo pessoas que melhoraram seus sintomas, devem manter a atividade física.

Quanto ao uso de massagens e técnicas de manipulações, até podemos orientar nossos clientes a realizar, porém em associação aos exercícios do Pilates. A pessoa nunca deve deixar de fazer Pilates para realizar apenas essas outras técnicas passivas para tratamento, elas irão complementar os exercícios.

Quando percebemos que o fator stress pode ser um dos fatores associados para os sintomas, podemos indicar que associem ao Pilates aulas de Ioga e meditação, pois mostram ser eficazes se associado aos exercícios terapêuticos. Com esse perfil de pessoas, exigir ainda mais o princípio da concentração e manter um ambiente de aula tranquilo é muito importante.

Tratamento farmacológico
ParacetamolNão recomendado
Anti-inflamatórios não esteroides2ª linha de tratamento ou adjuvante
Relaxantes muscularesEvidências insuficientes

Por mais que não somos profissionais que receitem remédios, nossos clientes costumam nas crises de dor se auto-medicarem e acabam nos perguntando se devem tomar algum analgésico ou relaxante muscular. Não devemos incentivar a auto-medicação e ter em mente que principalmente esses dois tipos de medicamentos não tem efeitos para melhora dos sintomas e não são aconselhados nos casos de dor crônica. Alguns anti-inflamatórios podem  ser utilizados, porém com uma avaliação e orientação médica.

Tratamentos cirúrgicos 
Discectomia (hérnia e radiculopatia)Laminectomia (estenose vertebral sintomático)2ª linha de tratamento
Fusão vertebralConduta incerta

Muitos dos nossos clientes acabam recebendo a orientação de tratamentos cirúrgicos, nós não somos os profissionais que indicam esse tipo de tratamento, devemos estar cientes que os tratamentos cirúrgico por vezes podem ser necessários, mas não como primeira opção de tratamento e que as cirurgias de fusão vertebral não se apresentam ainda como uma conduta certa para melhora dos sintomas.

Prevenção da dor lombar
A combinação exercícios + educação se mostra mais efetiva que apenas exercícios ou apenas educação
Cintas – INEFICIENTES
Palmilhas – INEFICIENTES
Alterações ergonômicas no ambiente de trabalho – INEFICIENTE

Muitos dos nossos clientes já realizaram algum tratamento para dor lombar, seja no Pilates ou não, e mantem as aulas de Pilates com maneira de prevenção de novos episódios. Cabe a nós continuarmos tendo toda atenção com esses clientes e saber orientá-los da maneira correta.

Mais uma vez, a realização de exercício tem alto índice de recomendação, dessa vez para a prevenção, mas quando associado à educação do paciente, os exercícios se mostram ainda mais eficazes na prevenção.

Sempre somos questionados sobre o que fazer ou não fazer, ás vezes ainda temos conceitos antigos e recomendações que se tornaram populares, porém que não apresentam as melhores evidências científicas. A recomendação mais atual é que as alterações ergonômicas no ambiente de trabalho não tem efeito positivo na prevenção da dor lombar, bem como o uso de Palmilhas ou cintas. Portanto, é nossa função desencorajar o uso de cintas e palmilhas e não incentivá-los a mudar a organização ergonômica do ambiente de trabalho para prevenir dor lombar.

Exames de imagem
Uso rotineiro – não recomendado.

Muitos estudos mostram que as alterações nos exames de imagem nem sempre são a causa da dor lombar, que dor lombar é multifatorial, e que muitas pessoas assintomáticas apresentam alterações nos exames de imagem. Muitas vezes aqueles alunos que já tiveram dor lombar e alguma alteração nos exames ficam querendo repetir o exame para ver “como a coluna está”. É nossa função desaconselhá-los a realizar o exame e explicar os motivos, justificando que pessoas com alterações em exames não necessariamente apresentam sintomas e que não existe essa relação direta, alterações em imagens e ter dor. Que ele pode conviver bem com essas alterações, que as alterações degenerativas são normais. A nossa principal orientação é que manter as atividades físicas (Pilates) é muito importante.

O que esses estudos mais nos mostraram é que manter-se ativo e realizar atividades físicas é o que temos de mais atual sobre tratamento de dor lombar crônica e prevenção. Isso dá para nós que trabalhamos com Pilates ainda mais respaldo para atuar com essas pessoas e reforça nosso papel de orientar e educar nossos clientes. Assim teremos resultados ainda mais positivos em nosso ambiente do Pilates.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • What low back pain is and why we need to pay attention. Hartvigsen, et.al. Lancet. 2018 Jun 9; 2356-236
  • Prevention and treatment of low back pain: evidence, challenges, and promising directions. Foster, el.al. Lancet. 2018 Jun 9; 2368-2383
  • Low back pain: a call for action. Rachelle Buchbinder, Lancet. 2018 Jun 9;391(10137):2384-2388

Por:Luciana Signorini
Fonte: Revista Mais Que Pilates

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