Foram 30 dias de uma intensa doação mútua. De minha parte, a certeza de que o momento da superação aconteceria mais dia menos dia. A esperança estava sempre presente.
Mel, nossa labradora de quase 14 anos, não se sustentava mais nas patas traseiras, vítima de uma coluna lombar com todas as “oses” possíveis, seguidas por uma septicemia “daquelas”, decorrente de uma artrite séptica! Como se tudo isto não bastasse, apresentava também alteração da contratilidade do coração. Após uma semana internada, ela voltou para casa e aí, coloquei em prática tudo aquilo que julgava útil para ajudá-la em sua recuperação: Fisioterapia, Eutonia, Acupuntura, Florais de Bach, Fitoterapia, Homeopatia e claro, o Pilates. O tratamento veterinário também continuou, com anti-inflamatórios, corticoides, exames laboratoriais e dieta adequada.
A Mel sempre demonstrou uma enorme carência, que era compensada com insistentes pedidos de carinho: na barriga, nas orelhas, nas costas. Em meu Studio, era a recepcionista e cobrava uma espécie de “pedágio”, tanto na entrada quanto na saída. O pagamento? Carinhos, cócegas e afagos. Era um dengo só! Aliás, ela sempre acreditou que eles vinham visitá-la, ao invés de pilatear. Ela conquistou a todos!
Como não retribuir ao amor incondicional que ela nos deu ao longo de sua vida? Decidi então arregaçar as mangas e melhorar a qualidade de vida da minha melhor amiga de quatro patas, dentro dos limites por ela estabelecidos e até quando São Francisco permitisse!
Iniciei a reabilitação da Mel com exercícios passivos, movendo isoladamente cada articulação, com o objetivo de reduzir a dor e melhorar a circulação nos membros superiores e inferiores. Ela manifestava tremores decorrentes da dor. A medida que fui movendo e depois alongando cada segmento, ela relaxava e se entregava a passividade total, num feedback positivo imediato. Os tremores sumiram.
Foi então que decidi realizar também a Acupuntura, com o objetivo de analgesia. Os animais não sabem que a agulha de Acupuntura é uma agulha, portanto não sentem medo como a maioria dos humanos, mas sentem o resultado de imediato. Após 20 minutos de aplicação em pontos específicos para lombalgia, ela levantava-se com mais facilidade, sem precisar tanto da minha ajuda. Após cada aplicação, ficava muito feliz pela minha atenção e até fazia um xixi enorme, como acontece com meus pacientes bípedes!
A ideia de utilizar o Pilates veio na sequência, pois ela demonstrava que ao reabilitá-la, suas reações de modo geral melhoravam, inclusive o apetite. A partir daí, passei a aproveitar a passividade natural da Mel, para ganhar espaço entre as articulações da coluna vertebral, melhorando dessa forma, o quadro da artrose. O acessório escolhido foi a Flymoon.
Durante esses dias de cuidado intenso, ela foi uma grande mestra. Aprendi a essência do conceito de “Passividade e Atividade”, pois quando a tocava, ela até sorria. Quando auxiliava a se mover, abanava muito o rabo, demonstrando que estava colaborando o mais que podia, sem nunca latir ou reclamar, somente conversando com o olhar, que metaforicamente, eram iguais aos “balõezinhos” das histórias em quadrinhos, cheios de corações!
…. Até que não pode mais … até não se mexer mais pela septicemia agravada … até que seu olhar, amarelado pela ação do fígado anunciou a sua partida…até que seu coraçãozinho muito enfraquecido, parou de bater.
Ficaram a alegria do convívio e o sentimento de gratidão, que preenche o nosso coração saudoso e ferido pela sua ausência definitiva. Como profissional da saúde e do bem estar, aprendi a valorizar cada movimento superado e a respeitar a velhice com muito mais amor.
Será que agimos corretamente com aqueles que precisam, sejam alunos, amigos, conhecidos, desconhecidos ou familiares? Fica essa questão para uma reflexão…
Sou grata por tudo que vivemos e muito mais pelo “todo” que recebi de você, minha amada e inesquecível companheira.
Em homenagem ao seu 14º aniversário, dia 11 de julho, compartilho com vocês momentos felizes dessa nossa troca que sempre nos fez tão bem…