Por Silvia Gomes
Com certeza você já utilizou nas suas aulas a expressão “vértebra por vértebra”. Talvez essa seja a dica verbal mais utilizada no ambiente de Pilates em qualquer lugar do planeta, em diversas línguas.
Sua intenção é fazer com que o praticante de Pilates articule sua coluna vertebral de forma segmentar, criando movimento ao longo de todo o eixo da coluna.
Geralmente essa expressão/dica é utilizada e pensada para as flexões da coluna no plano sagital. Vejamos: no Roll Down Series – exercício com assistência do bastão com molas aonde o aluno é convidado a passar da posição sentada para deitada articulando a coluna vértebra por vértebra – na Shoulder Bridge – aonde a partir da posição deitada com pernas flexionada e pés apoiados no chão, o aluno elevará o tronco a partir da pelve também articulando a coluna de forma segmentar vértebra por vértebra. Passando para a posição em pé também vamos vê-lo no Standing Roll Down aonde a partir da posição em pé flexionamos o tronco a partir da cabeça vértebra por vértebra.
O que quero chamar a atenção nesse post é que essa dica verbal e, especialmente, esse pensamento, deve sair do âmbito das flexões sagitais e ser utilizada nos movimento da coluna em todos os planos.
Hoje vamos pensar nas flexões laterais da coluna, muitas vezes chamada Mermaid no repertório de Pilates, aonde a coluna se move no plano frontal a partir da cabeça.
Na Mermaid, assim como em outros movimentos da coluna, a tendência é que as regiões mais mobilizadas sejam a cervical e a lombar que são mais livres e a menos articulada seja a torácica por ser a região aonde estão fixas as costelas entre as vértebras da coluna e o osso esterno, tornando-a mais rígida e difícil de mobilizar. Por isso é que os instrutores devem estimular o movimento dessa região para promover o alongamento dos músculos intercostais e lubrificar e mobilizar cada uma das pequenas articulações costo vertebrais e esterno costais. Mobilizar a região torácica com propriedade melhora também a respiração por deixar a caixa torácica toda mais flexível.
Retomando nossa vértebra por vértebra, lançar mão dessa dica verbal irá melhorar a visualização do professor e do aluno em relação a coluna e seus segmentos. A diferença em relação aos exercícios citados acima que mobilizam no plano sagital, é que não haverá o grande suporte do solo para receber as vértebras, o movimento será executado no ar, exigindo maior consciência e controle.
Vamos lá!
A Mermaid inicia-se, em termos de tronco, pela pesada cabeça que logo tende a cair. Nesse momento é importante chamar a atenção do aluno para esse controle excêntrico feito pela musculatura do lado côncavo do pescoço que se responsabilizará pela manutenção do espaço cervical garantindo o alongamento axial. É como se utilizássemos o famoso “passar por cima de uma bola”, porém desta vez a cabeça passará por cima de uma bola imaginária de tênis enquanto flexiona no plano frontal. Gosto de pedir para o aluno imaginar que está dentro de uma folha de papel ou encostado em uma parede (para dar a idéia do plano frontal).
Garantida essa articulação organizada das vértebras cervicais chegamos às vértebras torácicas imediatamente abaixo. Uma referência para o aluno nessa etapa pode ser a consciência das clavículas. Podemos pedir que imagine sua inclinação como a movimentação de um guidon de bicicleta que começa a inclinar. Teremos aí a flexão das primeiras torácicas. Logo abaixo, tem bastante efetividade a imagem da maçaneta que gira no no sentido do movimento enquanto o leque das costelas começa a se abrir do lado convexo. Sempre é bem vinda a idéia do passar por cima da bola, especialmente na região das costelas para que o aluno não “desabe” em cima da lombar.
Quando estimulamos essa flexão tão importante das vértebras torácicas, é bom verificar se o aluno mantém o lado côncavo relativamente macio, sem tensão pois a ação da musculatura nesse caso, é excêntrica. Estamos numa descida a favor da gravidade: não precisamos força e sim controle. Contrair o lado “menor”, côncavo nesse momento, irá comprimir os discos e tirar toda a ação que buscamos do alongamento axial.
Cervical e torácica flexionada podemos apenas pensar em espreguiçar a lombar para cima cavando ainda mais o lado côncavo e inspirando no lado que se abre e espreguiça para conseguirmos um último toque: o toque táctil interno do ar que empurra por dentro, gostosamente, as costelas para fora!