Onde o Pilates e a Fisioterapia se Encontram

fisioterapia e pilates

Entrevista com o Dr. Brent Anderson, da Polestar Pilates
Por Marguerite Ogle

Geralmente, quando pensamos em reabilitação física, pensamos em fisioterapia. No entanto, com o excepcional ganho de popularidade do Pilates ocorrido nos últimos dez anos, a consciência de seus efeitos na reabilitação também cresceu. Médicos recomendam o Pilates para seus pacientes com dores no pé, joelho, costas, ombro, pescoço e outros.

Fisioterapeutas estão integrando equipamentos de Pilates e exercícios do método em seus atendimentos, e muitos deles estão se formando também como instrutores de Pilates. Esta interessante e crescente relação entre Pilates e fisioterapia é o que vamos analisar mais de perto neste artigo.

Antes de aprofundarmos, queremos dizer que não há intenção aqui de sugerir que Pilates e fisioterapia são a mesma coisa ou substitutos um do outro, mas sim olhar para a relação mutuamente benéfica que há entre eles – para clientes, fisioterapeutas e instrutores – bem como para as distinções que precisam ser feitas em relação à abordagem e limites existentes ao tratar de saúde e doença. Além disso, observe que, nesse contexto, estamos falando de instrutores experientes de Pilates que são altamente capacitados em relação a metodologia, exercícios e equipamentos do método.

Para ter uma visão mais clara dos diferentes papéis dos instrutores de Pilates e dos fisioterapeutas, como a reabilitação é abordada de maneira diferente entre os dois e como esses dois profissionais podem trabalhar juntos de forma bem sucedida, procurei o Dr. Brent Anderson. Dr. Anderson é o fundador, presidente e CEO da Polestar Pilates. Ele é fisioterapeuta licenciado e especialista em ortopedia com PhD em fisioterapia. A Polestar Pilates tem estado há anos na vanguarda do diálogo entre Pilates e fisioterapia.

Comecei a entrevista pedindo ao Dr. Anderson para esclarecer alguns papéis fundamentais e terminologias entre Pilates e fisioterapia.

Definindo Reabilitação e quem pode fazê-la

Frequentemente, vemos divulgações promovendo o Pilates como algo bom para a reabilitação disso ou daquilo – joelhos, costas, pescoços, ombros, etc. Mas o Pilates é um método de movimento, e o escopo da prática do instrutor de Pilates exclui especificamente o papel de diagnosticar, prescrever, tratar ou reabilitar qualquer lesão ou doença (isso é verdade para todos os profissionais de ensino de movimento não licenciados na área clínica). Então perguntei ao Dr. Anderson: Qual é a relação entre reabilitação e fisioterapia e qual o uso apropriado do termo “reabilitação”?

A reabilitação, diz o Dr. Anderson, é o braço médico da função restauradora.

“Você tem que ser um profissional licenciado na área clínica para dizer que oferece reabilitação. Fisioterapeutas, quiropratas e fonoaudiólogos, por exemplo, são profissionais licenciados que podem oferecer reabilitação a seus pacientes. Como profissionais de Pilates, yoga e instrutores de outros métodos de movimento, não são licenciados na área clínica, nos EUA eles não podem dizer que oferecem um trabalho de reabilitação para seus alunos. Para ser ainda mais específico, fisioterapeutas são os profissionais que podem oferecer reabilitação através de fisioterapia e a fisioterapia é um campo de trabalho exclusivo deles”, afirma.

O que os professores de Pilates podem fazer, sugere Dr. Anderson, é dizer que fornecem um trabalho de prevenção, pós-reabilitação ou de educação voltado ao bem-estar. Estamos falando agora de legalidades nos Estados Unidos porque, como o Dr. Anderson aponta, “essas regras foram definidas pelos estados e pelas profissões e por todo o lobbying que acontece para proteger seus interesses especiais”. Eles não se aplicam na maioria dos outros países.

O Pilates tem raízes na reabilitação

É bastante relevante, ressalta o Dr. Anderson, olhar a história do Pilates em termos de reabilitação. Regras relativas ao escopo da prática e o que pode e não pode ser chamado de reabilitação não estavam em vigor quando Joseph Pilates começou a desenvolver seu trabalho na Primeira Guerra Mundial, como prisioneiro na Isle of Man (Ilha do Homem). Pilates cuidou de pessoas feridas e doentes utilizando exercícios com a intenção clara de reabilitá-las. Anos mais tarde, o studio de Pilates em Nova York cresceu, e isso foi, em grande parte, porque Joseph e sua esposa Clara estavam reabilitando dançarinos. Os veteranos do Pilates, conhecidos como “Elders”, a exemplo de Carola Trier, Ron Fletcher e Eve Gentry, estavam entre os muitos dançarinos que foram procurar Joseph Pilates em busca de reabilitação.

Mais à frente, os equipamentos de Pilates foram projetados para abordar a reabilitação – permitindo às pessoas fazerem movimentos que não poderiam ser realizados contra a gravidade. Brent Anderson dá um exemplo: “Se você não pudesse sustentar seu braço no ar contra a gravidade, você poderia suspender esse membro. Você poderia deitar de lado com seu braço conectado a uma mola, e assim mover o braço para frente e para trás sem o efeito da gravidade sobre ele e, assim, começar a reativar as fibras musculares. Isso se faz no Cadillac (ou Trapeeze Table). E, se você não conseguisse ficar de pé ou agachar com suas próprias pernas, você poderia configurar o Reformer colocando molas de tensão inferior ao seu peso, e fazer o agachamento deitado, e ainda assim ter o efeito de cadeia fechada típico do agachamento e do movimento. Assim, fica claro que o trabalho de Joseph Pilates teve um elemento de reabilitação incorporado a ele”.

Duas visões a respeito do Pilates na fisioterapia nos dias de hoje

Atualmente, como o Dr. Anderson relata, milhares de fisioterapeutas estão utilizando o Pilates. Alguns são formados no método e incorporam toda a filosofia holística do Pilates em suas práticas. Falaremos mais sobre isso depois. Já outros fisioterapeutas optam por tomar o caminho que o Dr. Anderson chama de “uma abordagem mista”. Ele descreve isso como um fisioterapeuta usando alguns exercícios de Pilates Mat (exercícios de solo) ou utilizando os equipamentos com uma base de conhecimento limitada em termos de repertório e conteúdo – essencialmente usando frações do que aprendeu com o método Pilates como parte de uma abordagem mais tradicional e alopática para a fisioterapia. Nessa abordagem, a ideia é identificar uma patologia e reabilitá-la de um ponto de vista localizado.

Dr. Anderson traz o exemplo do passo a passo que um fisioterapeuta tradicional pode usar com um paciente que tem dor no ombro: “Começam analisando o ombro e, se houver dor nele, analisam o manguito rotador para ver se existe uma lesão aí. Se acharem que existe, tratam o manguito rotador. Se ele não responder, partem para as injeções ou, que Deus não permita, para intervenções cirúrgicas”. Ele faz o contraste entre o cenário “comece com a patologia e a dor” e a abordagem holística que um professor de Pilates ou fisioterapeuta que integra a filosofia do método à sua prática teria, que é começar analisando os padrões e compensações gerais do movimento.

Embora o Pilates tenha efeitos reabilitadores, onde apontamos benefícios para uma parte ou outra do corpo, a grande maioria dos profissionais sérios costuma se arrepiar com a abordagem segmentada dentro do próprio Pilates. Pergunto ao Dr. Anderson se faz algum sentido dizer “Pilates para isto ou aquilo…”, como “Pilates para dor nas costas”, por exemplo.

A visão do Dr. Anderson é que, como regra geral, uma aula de Pilates abrangente e holística fará uma diferença significativa na qualidade de vida de um aluno/paciente. O que faz sentido se fazer em Pilates, em relação as particularidades de uma população específica, é em termos de precauções e contraindicações. Se você tem entre os clientes uma população especial, como uma grávida ou alguém que está em processo de cura de uma lesão, o Dr. Anderson diz: “Há certas coisas que você vai evitar ou modificar em sua aula de Pilates holística e abrangente. Então, se você está orientando coisas que são especialmente boas para eles, e também algumas dicas relacionadas a precaução, então com certeza isso é altamente apropriado. Usar o Pilates para isolar partes do corpo, como por exemplo, usar o Pilates apenas para fazer exercícios para o joelho, é um pouco ridículo, pois vai de encontro à todo o propósito da filosofia do método”.

Pilates e Fisioterapia como um Continuum de Cura

Existe uma escala de cura estratégica que o Dr. Anderson diz ser usada na formação da Polestar (que no Brasil é oferecida pela Physio Pilates), que nos mostra como o Pilates e a fisioterapia são diferentes, mas também onde eles podem se encontrar em um continuum de cura para o cliente. “Restrição de qualquer tipo”, diz ele, “psicológica ou física, leva a padrões de compensação. Essas compensações levam a desalinhamento ou deformação. Então, as pessoas manifestam patologias que levam à dor.” E é aqui que o Dr. Anderson faz uma distinção importante entre fisioterapia tradicional e Pilates: “Profissionais de saúde tradicionais vão abordar patologias e dor. Um professor de Pilates não está focado na patologia. Um professor de Pilates olha para o alinhamento geral, para a articulação e mobilidade, para o controle, para o equilíbrio e a fluidez dos movimentos”.
Isso não é para sugerir que a fisioterapia esteja errada ou venha de um ponto de vista ultrapassado. Dr. Anderson também afirma que existem problemas estruturais que precisam de manipulação, cirurgia ou algum tipo de correção estrutural. A oportunidade é ver o Pilates e a fisioterapia em termos de uma estratégia de cura, que começa com padrões gerais de movimento e compensações, os quais fazem parte do reino do Pilates. Se isso não está dando resultado ou se há claramente uma questão estrutural, o cliente precisa passar para a fisioterapia. Após a fisioterapia, o Pilates pode proporcionar benefícios de pós-reabilitação com um melhor custo-benefício.

A seguir, instrutores de Pilates e fisioterapeutas trabalhando juntos.

No mundo ideal, o diálogo entre instrutores de Pilates e fisioterapeutas é organizado em torno das necessidades do cliente e também beneficia cada um desses profissionais. Dr. Anderson analisa o potencial fluxo de clientes entre fisioterapeutas e instrutores de Pilates da seguinte maneira: “Não há fisioterapeuta em sã consciência que sugira a um paciente que se pendure nele para sempre, a fim de continuar trabalhando com ele. E não deveria haver nenhum professor de Pilates que pense que é o fim para tudo, que não há problema estrutural que ele não consiga consertar, pois eles existem sim e eles precisam do fisioterapeuta e do médico, do quiroprata e do osteopata para ajudá-lo na prestação de cuidados à pessoa mais importante que, no caso, é o nosso cliente”.

O que precisamos, é claro, é da comunicação entre o instrutor de Pilates e o fisioterapeuta. Perguntei ao Dr. Anderson se esse tipo de troca realmente acontece. E a sua resposta é um sim definitivo. “Temos fisioterapeutas que têm habilidades abrangentes em Pilates e podem trabalhar de maneira bastante independente, mas tendem a encaminhar o cliente ao professor de Pilates para fazer a transição para fora do espectro fisioterapêutico, pois sabem que o cliente precisa de algo mais acessível. Os seus pacientes precisam de aulas de movimento e eles [os fisioterapeutas] querem que seus clientes façam essas aulas com alguém treinado e capacitado em pós-reabilitação. Então vemos assim esse relacionamento se fortalecendo”, diz ele.

O Dr. Anderson também sugere que os fisioterapeutas e os instrutores de Pilates aprimorem seu próprio trabalho, ganhem confiança sobre os encaminhamentos e sejam mais informados, observando e experimentando o trabalho uns dos outros, tudo em prol de seus clientes. Basicamente, a dica é para que você não seja tímido. Um instrutor de Pilates pode ligar para o fisioterapeuta e perguntar sobre rotinas de movimento e contraindicações. Eles podem ir observar o cliente em uma sessão de fisioterapia. Da mesma forma, o fisioterapeuta deveria experimentar o Pilates antes de decidir se o Pilates é bom ou não para o cliente.

Como incentivo extra para o professor de Pilates que pode se sentir intimidado de entrar em contato com um fisioterapeuta, o Dr. Anderson nos lembra de não presumir que todos os fisioterapeutas são criados de forma igual: “Alguém que não quer que você vá observar o tratamento, provavelmente não está dando um atendimento muito bom ou é incrivelmente inseguro. É como o céu para mim ter um professor de Pilates que tira do seu tempo para vir me ver atendendo”.

Agradecemos ao Dr. Brent Anderson, da Polestar Pilates, por todos os seus conhecimentos sobre Pilates e fisioterapia, bem como pelo trabalho que realiza para facilitar um relacionamento mutuamente benéfico entre os dois.

Texto traduzido livremente pela Physio Pilates. Clique aqui para acessar o texto original.

Clique aqui e saiba mais sobre a Formação da Physio Pilates – Polestar Pilates.

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