Pilates x Retorno da forma física x Puerpério

Atualmente nós temos vivenciado uma procura pelo método Pilates durante a Gestação, porém o PUERPÉRIO, ou PÓS-PARTO também é um momento muito significativo e importante na vida de toda mulher.

Após 9 meses de mudanças profundas e de um evento crucial que é o Parto, a mulher se depara com todo um contexto de transformações físicas, emocionais, sócias e psicológicas que a leva a buscar um lugar “seguro” ou de reconhecimento de si. Nessa busca ela vai de encontro ao retorno da atividade física. Nós sabemos que o retorno gradual da atividade física pode minimizar os efeitos de sintomas no pós-parto como dor no segmento lombo-pélvico, dor perineal, incontinência urinária e fecal, disfunções de músculos do assoalho pélvico e abdominais e o método Pilates tem sido indicado pela classe médica por seus inúmeros benefícios, porém vem o questionamento:

  1.  A puérpera já está preparada para retornar a uma prática de Pilates e como será essa prática?
  2.  O instrutor de Pilates tem o conhecimento das mudanças ocorridas e como isso afetará o princípio do Power House?
  3. Como estruturar uma aula que seja pertinente as necessidades da puérpera?

Vamos focar nessas três questões!

PUERPÉRIO

Definição:

Puerpério é o período de readaptação do organismo alterado pela gestação, o qual tem início com a expulsão da placenta e a duração de 6 semanas (Hentschel e Brietzke 2006, p.306)

O puerpério ou pós-parto é o período cronologicamente variável do ciclo gravídico-puerperal em que ocorre a involução das modificações locais e sistêmicas decorrentes da gestação e recuperação do parto. Ele inicia logo após a expulsão da placenta e das membranas ovulares e se estende até o retorno das condições normais pré-gravídicas, durando em torno de 6 a 8 semanas (Zampieri, 2007, p.435).

O período puerperal (puerpério, pós-parto, sobre-parto) inicia-se ao final do parto, prolonga-se por 6 a 8 semanas e termina quando todos os órgãos da reprodução tenham retornado ao estado não gravídico. (Baracho, 2012, p. 156)

Divisão:
Pós-Parto Imediato: 1 ao 10 dia
Pós-Parto Tardio: 11 ao 40 dia/ até 45 dias
Pós-Parto Remoto: a partir do 41 dia / a partir de 45 dias

ALTERAÇÕES NO PÓS-PARTO X POWER HOUSE

Apesar de o estudo da anatomia e fisiologia ser segmentado para uma melhor compreensão e aprofundamento, cada vez mais fica evidente que o corpo trabalha como um todo, ou seja, como um único sistema onde qualquer alteração repercute em eventos em séries.

A puérpera vai ter todos os seus sistemas alterados.

Sistema reprodutivo
Útero = involução uterina, ou seja, retorno a cavidade pélvica e o peso retorna a condições pré-gravídicas de 60 g entre 6 a 8 semanas. Vai estar afetado pela paridade, tipo de parto e amamentação.

Sistema respiratório
Diafragma torácico = deslocado superiormente e retificado volta aos poucos ao seu formato de cúpula. Esse retorno junto com o reposicionamento das vísceras abdominais e a descompressão do estômago, que promovem um melhor esvaziamento gástrico, auxiliam a volta do padrão respiratório.

Sistema urinário
A bexiga teve a capacidade aumentada, distensão excessiva e esvaziamento incompleto. A analgesia somada aos traumas do trabalho de parto e a sondas podem propiciar infecções urinárias. Alterações morfológicas como dilatação da pelve renal, da uretra e dos ureteres e relaxamento vesical podem persistir por 3 meses após o parto. As alterações morfológicas junto com a embebição hormonal e a alteração dos músculos do assoalho pélvico podem ocasionar a Incontinência Urinária.

Sistema circulatório
A pressão arterial que diminui durante a gestação normaliza-se. A diminuição da compressão da veia cava pelo útero faz aumentar o retorno venoso, diminuindo o edema de membros inferiores, as varizes vulvares e de pernas.

Sistema digestório
Deixa de existir a pressão sobre o aparelho digestivo com a ausência do feto na cavidade abdominal, permitindo o seu posicionamento e o retorno a mobilidade gastrointestinal, porém a analgesia, a flacidez da musculatura abdominal e do assoalho pélvico, as dores cicatrizais devido a via de parto podem retardar esse processo e gerar constipação intestinal.

Sistema endócrino
Após o parto há diminuição dos hormônios produzidos pela placenta = Estrogênio, Progesterona e Hormônio lactogênio-placentário. Há diminuição também do volume tireoidiano. Por conta da amamentação ha aumento dos níveis de prolactina e ocitocina. O novo equilíbrio hormonal vai influenciar tanto aspecto somático quanto emocional na mulher.

Sistema músculo-esquelético
Os tecidos musculares ainda estão sob efeito hormonal, ocorrendo uma remodelação tecidual com diminuição de tônus da fibra muscular e aumento de flexibilidade e extensibilidade ligamentar afetando a estabilidade de importantes segmentos. Além disso, a anteverão pélvica que ocorreu durante a gestação promoveu a mudança dos ângulos de inserção dos músculos abdominais e pélvicos que resultaram em distensão excessiva com prejuízos no vetor de força e diminuição da contração, podendo levar a instabilidade lombo-pélvica, diminuição da capacidade de gerenciar a postura, diástase da musculatura abdominal e incontinência urinária.

POWER HOUSE

Usando a analogia da “Casa de Força”, iremos encontrar as seguintes alterações no Pós-Parto:

TETO = Diafragma torácico: empurrado para cima por conta do crescimento uterino, ele irá retornar ao seu formato de cúpula, porém como teve sua capacidade funcional diminuída durante a gestação deveremos estimular novamente o ritmo respiratório torácico-costal

CHÃO = Diafragma pélvico: influenciado pelo sistema endócrino (estrogênio, progesterona e relaxina) que propiciou sua extensibilidade e diminuição do vetor de força junto com a alteração dos pontos de inserção musculares com o aumento da anteverão da pelve e aumento da pressão intra-abdominal com o ganho de peso, ele também pode ter sofrido impacto pela via de parto que pode ter ocasionado lacerações e/ou suturas. A musculatura do assoalho pélvico se encontra com suas funções alteradas: reflexo, controle, coordenação, tônus resistência e força e essas funções vão retornando gradativamente no pós-parto, sendo que o retorno da força é o mais tardio.

PAREDES = Musculaturas abdominais foram influenciadas pela alteração do centro de gravidade e distendidas para possibilitar o crescimento uterino, por conta disso estarão com tônus e força alterados no Pós-Parto ocasionando déficit funcional. Além disso pode ter ocorrido uma separação dos feixes do músculo reto abdominal chamada Diástase dos músculos reto abdominais (DMRA) que é causada pela perda de fixação do músculo reto abdominal em suas respectivas bainhas. Também temos que levar em conta que num parto cirúrgico a musculatura abdominal sofreu um impacto de uma sutura levando a um processo cicatricial que pode interferir na recuperação dessa musculatura.

EIXO CENTRAL = Multifidus: os paravertebrais como um todo estiveram sobrecarregados. Durante a gestação e normalmente espasmados, com diminuição da atuação da musculatura abdominal para sustentar a postura por conta da distensão dos mesmos para acompanhar o crescimento uterino. Dependendo da via de parto, podemos encontrar uma postura antálgica, sobrecarregando ainda mais os paravertebrais e a cadeia posterior como um todo

AULA DE PILATES NO PUERPÉRIO

Encontramos na nossa sociedade uma compreensão muito superficial do que é o PUERPÉRIO. Tanto a puérpera quer retornar a sua “antiga forma” com uma rapidez que não é fisiológica, como as pessoas ao redor (família, amigos, trabalho, etc) cobram esse retorno. Isso leva a mulher a buscar exercícios físicos que podem aumentar a fragilidade das estruturas que já estão sobrecarregadas pela gestação e o parto e o pior: levar a disfunções.

Quando o instrutor de Pilates recebe na sua sala de aula uma puérpera ele normalmente a trata como uma cliente convencional, não compreende que essa puérpera faz parte de um GRUPO ESPECIAL, como uma gestante ou um idoso, e muitas vezes junta o objetivo da mulher que normalmente é retornar a sua antiga forma física, com o instrutor que quer realizar esse objetivo e não está ciente das fragilidades que o Puerpério traz. Nesse caso é fundamental uma boa anamnese com a historia pregressa dessa mulher, principalmente da gestação e parto para poder traçar uma estratégia de aula compatível.

O método Pilates é excelente para o retorno do Centro de Gravidade no puerpério e ajuda a diminuir as tensões que uma nova mãe enfrenta com a amamentação, cansaço, dores nas costas por carregar bebê, carrinho, etc, MAS ele precisa ser bem aplicado e para isso nós precisamos de profissionais competentes para trabalharem com essa mulher nesse momento tão desafiante.

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