Clara Trigo conta sobre a criação e usabilidade da Flymoon

Confira a entrevista com Clara Trigo e sua criação a Flymoon!

  1. Conte-nos quem é você:

Essa definição é sempre difícil. Vou fazer assim, quem quiser me conhecer, pode começar lendo um pouco de Manoel de Barros, Paulo Freire, Elsa Gindler, Mabel Todd, Moshe Feldenkrais; deve dar uma olhadinha nos desenhos de M. C. Escher, Pablo Picasso e Chema Madoz; deve ler as poesias de Alice Ruiz, ouvir Arnaldo Antunes e Mestre Lourimbau; conhecer algo do pensamento de Hélio Oiticica; pode assistir a uns filmes de Win Wenders,assistir às obras de Philippe Decouflé; precisa ver Israél Galván e Belem Maya dançando. Certamente tem que começar a dançar e sentir um pouquinho a instabilidade da Flymoon®. Isso para começar, hehehe.

Assim como esses que eu admiro, minha vocação é “inventar mundos”. Faço isso principalmente através do movimento, de brincar com o corpo, brincar de mover. É daí que tudo mais se desdobra e se realiza. A arte, a educação, a engenhosidade dos inventos, a poética, o cuidado com o outro. De formação, sou educadora e artista. Fiz Licenciatura em Dança na UFBA. Minha vida na dança e na arte começou muito antes da faculdade, mas a faculdade de dança foi um marco na minha forma de pensar, mover e entender o mundo.

Eu sou uma artista, uma militante de causas cidadãs, feministas e culturais e sou uma educadora. Me dediquei a vida toda a entender de movimento humano, que no final das contas é entender o humano. Entender os corpos é entender as pessoas.

  1. O que é a Flymoon?

A Flymoon®, ou O Flymoon® (não há restrição quanto ao uso de artigo masculino ou feminino) é o equipamento idealizado por mim e desenvolvido e nomeado em parceria com a Physio Pilates. Esse equipamento nasce da Meia Lua ou Baby Arc, do Pilates. Em 2001, eu comecei a investigar as possibilidades de movimento que a posição instável oferecia. Em 2002, a semente da Flymoon® apareceu em público como objeto cênico, no meu primeiro espetáculo, Ideias de Teto. Alice Becker dançava neste trabalho e era a dançarina desta cena. Em 2006, depois de muita experiência com essa instabilidade, conversei com Alice sobre o desenvolvimento deste trabalho e ela me propôs treinar toda a equipe de professores e educadores com meu repertório. Daí nasceu o primeiro workshop, que ainda se chamava Workshop de Meia Lua Invertida. Ainda em 2006, ao ser convidada para oferecer uma aula em Londres, Alice me pediu autorização para mostrar lá o meu repertório, começando aí a difusão internacional dessa criação. A partir daí, por uma conjuntura favorável, a fábrica de equipamentos Physio Pilates desenvolveu as soluções técnicas que estavam apontadas pelos anos prévios de prática: bordas maiores, abauladas e acolchoadas, estrutura de madeira reforçada para garantir a sustentação do peso sem partir e acabamento interno com borracha, espuma e tecido, mantendo a integridade da peça.

Em 2006, tive o prazer de ser presenteada com o primeiro protótipo de Flymoon® produzido pela fábrica de equipamentos Physio Pilates e, em 2007, a Flymoon® começou a ser comercializada.

Testado o protótipo, eu e Cláudio passamos a discutir o nome que daríamos àquele novo objeto. Ele trouxe o critério de criarmos um nome em inglês, por entender o caráter internacional que este objeto teria com o passar do tempo e sugeriu FlyingMoon. Eu gostei do nome, mas sugeri a redução para Flymoon, em apenas uma palavra, ainda que esta redução faça menos sentido na gramática do idioma inglês, que seria algo tipo: voa lua ou flutua lua.

  1. Qual a ligação entre a Flymoon e o que você chama de “Instabilidade Poética”?

A existência da Flymoon® tornou muito concreto e material um pensamento que eu já vinha aplicando e praticando como artista e como educadora, mas ainda não tinha me dado conta da dimensão do que eu estava desenvolvendo. Com muitos anos de experiência, ensinando a profissionais de movimento vindos principalmente da saúde, ficou mais claro que havia algo no que eu estava ensinando que ia além do repertório de exercícios e do refinamento na execução. Foi ficando claro que a contribuição que eu estava dando – e podia aprofundar muito mais – vinha não apenas da minha experiência com movimento e ensino de movimento, mas da abordagem metodológica, que eu devo à minha prática artística. Havia algo que eu já estava oferecendo “em segundo plano” nos meus workshops, que precisaria vir para o primeiro plano, que tem mais relação com a forma como tudo isso se constrói do que com o exercício em si. Para conseguir falar sobre esse processo complexo e poderoso de soluções instantâneas e construção de conhecimento que acontece no corpo de cada um, ao se deparar com a instabilidade da Flymoon®, tive que encontrar uma síntese. O termo Instabilidade Poética veio para sintetizar esse reconhecimento da instabilidade, da incerteza, da insegurança, como uma oportunidade de encontrar novas soluções no próprio corpo, de forma autônoma, individual e poética, ou seja, incluindo aspectos do imaginário, da fantasia, da invenção, da brincadeira.

É tão poderosa essa instabilidade, que obriga cada um a encontrar suas próprias soluções, que o papel do professor muda. Deixa de ser a condução absoluta de cada mínimo movimento do aluno, para ser a criação de um ambiente de confiança, para a realização das mais diversas experiências motoras, em benefício da autonomia do aluno, tornando cada movedor um investigador de si mesmo, um produtor de conhecimento sobre movimento e sobre seu próprio corpo. Esse é um aspecto que resulta dessa metodologia, desse conjunto de práticas, que chamo de Instabilidade Poética.

  1. Qual objetivo do equipamento?

Esse equipamento não é específico, como um equipamento de musculação, por exemplo, que te coloca numa posição para trabalhar um determinado grupo muscular e nada mais. A Flymoon® é como um brinquedo, pode servir para múltiplos objetivos. A mínima variação na posição, na descarga de peso, no jeito de apoiar uma parte ou outra do corpo, vai modificar a quantidade de força aplicada, a estratégia proprioceptiva. É um sem fim de possibilidades. Vou fazer uma lista básica, só para começar a dar algumas ideias das possibilidades. Com Flymoon® é possível realizar: agachamentos, mobilizações de coluna, mobilizações escapulares, trabalho abdominal diferenciado (sem o esforço de levantar a cabeça do chão), fortalecimento de musculatura intrínseca do pé, fortalecimento de toda a musculatura da perna, braços, tronco; trabalho de equilíbrio. É muito indicado para a fase final de reabilitação de entorses de tornozelo; para prevenção de quedas; para a melhora da eficiência de movimento de uma forma geral. Além disso, sua característica especial de balançar instiga o gosto e a curiosidade pelo movimento. As aulas de Flymoon® podem ter diferentes graus de dificuldade, atendendo a crianças, idosos, atletas, pessoas ociosas, artistas de circo, pessoas em fase de reabilitação e tantos outros. Uma aula de Flymoon® pode até ser dada pelo seu professor de pilates, mas é uma aula de Flymoon®, já que a metodologia (a Instabilidade Poética, que falamos antes) se diferencia das metodologias de pilates e privilegia aspectos como: investigação e liberdade de movimento, busca criativa e construção da autonomia do indivíduo.

As aulas desafiam o equilíbrio, o controle de centro, a força e a coordenação motora, sempre de forma lúdica. As práticas podem acontecer em sessões individuais ou coletivas.

  1. Quais foram suas fontes de inspiração para criação da Flymoon?

A primeira e mais imediata é a meia lua, do pilates. O arco já estava lá, só esperando que alguém o virasse, hehehe. Aliás, me surpreendeu não ter encontrado registro de ninguém ter feito isso antes. Depois que comecei a difusão do trabalho e depois da aula de Alice em Londres, apareceram alguns clamando para si a ideia, mas logo esmoreceram, porque as raízes e o aprofundamento da ideia só são possíveis quando se está em contato com as “fontes” que te levam à ideia. Essas “fontes” estão na minha infância, no meu gosto por inverter, pendurar, brincar de mover o tempo todo.

Como diz Stephen Nachmanovitch:

“Muitas das grandes descobertas científicas, artísticas e espirituais foram na verdade a revelação de uma obviedade surpreendente que ninguém até então havia conseguido ver ou imaginar porque estavam todos demasiadamente amedrontados ou excessivamente apegados ao pensamento tradicional”.

  1. Como a Flymoon® trabalha? Em quais as áreas do corpo podemos utilizar o equipamento?

Essa pergunta tem muitas respostas. Flymoon é o tipo de equipamento multiuso, que vai crescer em complexidade, quanto mais qualificado for o profissional que lhe der uso. A simplicidade do design lhe permite infinitas possibilidades na experiência. Se estamos apenas parados em pé, as principais áreas solicitadas serão estabilizadores de tronco (abdominais, para vertebrais e multífidus) e de pernas (adutores, panturrilhas), mas isso pode variar de pessoa pra pessoa e essa é uma característica muito interessante da Flymoon®. Mesmo podendo prever muito do que se faz, cada corpo terá uma experiência diferenciada em termos musculares sobre ela.

Se estamos “Andando na Lua” os principais músculos envolvidos são quadríceps e panturrilhas, alternando contração excêntrica e concêntrica, além de toda a musculatura estabilizadora do tronco, que está sempre inteligentemente acionada pela instabilidade. Se estamos com as mãos apoiadas sobre as bordas, dobrando e estendendo os cotovelos, utilizaremos muito peitoral, deltoide e tríceps, sempre em contrações excêntrica e concêntrica, além da musculatura anterior do tronco, em intensa atividade estabilizadora, em resistência à gravidade.

Pela instabilidade natural do equipamento, toda a musculatura do tronco atende ao comando involuntário de aproximar do centro, gerando o “estreitamento” do tronco, ou seja, a sensação de “afinar” e “crescer”. O controle postural é beneficiado como um todo, já que o alongamento axial é consequência do trabalho continuado sobre a Flymoon, assim como o ganho de estabilidade nos tornozelos e o incremento no equilíbrio. Ganho de força e propriocepção são também consequências naturais desse trabalho. Além disso, as possibilidades de balanço da Flymoon favorecem a ludicidade da aula, tornando a criatividade de seu aluno parte integrante do processo de condicionamento físico.

Este ano, a Flymoon completa 10 anos de produção e difusão pelo mundo.Já faz uma década que o equipamento existe e esse é apenas o começo! As celebrações vão acontecer ao longo do ano em diversos formatos. Um deles é o ebook que criei especialmente para contar um pouco dessa história. O EbookFlymoon® é enviado gratuitamente para todos os que se cadastram no site claratrigo.com.br ou entram em contato comigo estou diretamente por whatsapp (71-98785-4790) ou por email (clara@claratrigo.com.br).

Encontre mais notícias sobre Flymoonna página Flymoon® no FB e no Instagram @flymoonclaratrigo.

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